RELATÓRIO FINAL DA SUBCOMISSÃO DA VERDADE NA DEMOCRACIA AS EXECUÇÕES SUMÁRIAS NO RJ | Page 5

conclusões da pesquisa? Durante os três anos de funcionamento da Subcomissão nos envolvemos em uma experiência rica e conflituosa com os movimentos sociais. E ouvimos críticas ferrenhas sobre o caráter acadêmico e elitista da nossa equipe. Os movimentos têm razão. Os trabalhos acadêmicos têm uma importância fundamental no contexto da segurança pública e não raro são capazes de exercer influência sobre elas - ainda que cada vez isso seja mais raro. Este relatório, no entanto, não é um trabalho acadêmico. É um texto político. Seu objetivo é contar uma história, alinhavando e sumarizando uma teia de fenômenos complexos em cuja ponta estão os corpos de jovens, negros e favelados. Assim, a linha narrativa que segue foi concebida para ser fluída, acessível a um público mais amplo que pesquisadores e especialistas, e transcorre sem conceitos, tecnicismos ou notas de pé de página. Apenas no governo Pezão, cujo levantamento foi feito quase que inteiramente em tempo real, recorrendo a diferentes fontes, os endereços digitais das referidas notícias se encontram em notas de rodapé. Sobre a seleção dos casos, o critério foi a escolha de episódios que já tivessem sido reportados como violações de direitos humanos. De um lado, levantamos os casos denunciados por organizações de defesa dos direitos humanos do Brasil e do exterior nessas últimas três décadas. De outro, os casos escolhidos na base de dados jornalísticos precisavam ter menções diretas a autoria de policiais e pistoleiros, ou ao menos terem sido retratados com séria suspeita de envolvimento de agentes públicos. Os resultados obtidos com as palavras-chave “polícia mata” e “violência policial” demonstraram que existe um filtro que separa tais perspectivas e a maneira como são retratadas. Nesses casos, a quantidade de mortos não influi necessariamente nas valorações de “normalidade” – polícia mata cinco no Jacarezinho – e outra de excesso – polícia chacina família. Quanto aos grupos de extermínio e milícias, as notícias selecionadas deveriam mencionar explicitamente o envolvimento ou indício de ação de grupos de extermínio, matadores de aluguel ou agentes de Estado. Uma parte substancial de casos que continham descrições de cadáveres em circunstâncias muito semelhantes aos produzidos pelas milícias, polícias e grupos de extermínio foi descartada por não existirem menções a esses atores. A seleção das notícias sobre segurança pública seguiu um critério simples, baseado, estes sim em conceitos, na oposição entre segurança pública e segurança cidadã, cujos