O amor tem sido descrito há séculos por estudiosos de várias áreas do conhecimento. Por exemplo, para Platão o amor autêntico é aquele que liberta o indivíduo, para Kant apenas o amor altruísta é aceitável, já para Freud o conceito de amor é uma ampliação do conceito de sexualidade, em que a libido dirige o indivíduo à satisfazer seus desejos internos.
Todavia, mesmo esses autores descrevem padrões amorosos não saudáveis. Platão diz que o amor possessivo persegue o outro como um objeto a devorar, para a filosofia kantiana o amor-paixão (egoísta) é impossível de controlar e está fundado em interesses próprios desprezando o sentimento do outro. E o artigo “Amor patológico: um novo transtorno psiquiátrico?” (2007), publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria, traz que o amor pode vir a ser patológico quando a atitude de dar atenção e cuidados em relação ao parceiro passa a ser uma prioridade na vida do indivíduo, estando muito acima dos interesses que antes eram valorizados pelo mesmo.
Fazendo uma analítica revisão dos dados diagnósticos, clínicos e familiares a pesquisa tem como objetivo ter uma melhor compreensão das características dos portadores de amor patológico (AP). Trazendo as controversas características clínicas e diagnósticas, o estudo compara o estágio inicial do AP com o uso de drogas, pois a liberação de adrenalina que o estado de exaltação e estresse constante traz para o sujeito, proporciona um momentâneo alívio da angústia. E assim como ocorre com o dependente químico o portador de AP não tem total controle sobre suas ações, e acredita que o parceiro tem o poder de trazer significado para sua vida.
Medo de abandono, de estar só, de não ter valor ou de não merecer o amor, são características do portador de AP, então a essência dessa patologia é o medo, e não o amor. Segundo o estudo, o AP apresenta também semelhanças com o comportamento obsessivo-compulsivo, por que em ambos ocorrem alterações neuroquímicas semelhantes no transporte de serotonina. Retrata-se também, que o AP caracteriza-se como dependência de amor.
O artigo também trata dos critérios de avaliação do comportamento patológico e do padrão familiar dos portadores. Sendo que a semelhança clínica entre o AP e a dependência de álcool e outras drogas, fica muito clara, pois dos sete critérios utilizados para o diagnóstico de dependência, seis são comuns com o AP. Também traz que na vida adulta esses indivíduos repetem os padrões de relacionamento registrados na infância. Com o padrão de lares desajustados com pais distantes, muitas vezes alcoolistas ou abusadores, a criança, como tentativa de garantir amor, passa a ter as reponsabilidades dos pais e tornam-se carentes de suporte afetivo. Buscando no parceiro futuro esse afeto não obtido.
Amor Patológico
7 aTUAmente /Junho, 2015