Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 30
Ela voltou para o carro. Pelo menos conseguiria
dirigir até em casa. Lembrava-se de como dirigir.
O pensamento de que Obsidian deveria ser en-
terrado lhe ocorreu antes que chegasse ao carro, e
ela vomitou.
Tinha encontrado e perdido aquele homem tão
depressa. Era como se tivesse sido arrancada do con-
forto e da segurança e recebido uma surra repenti-
na, inexplicável. Sua mente não funcionava. Ela não
conseguia pensar.
De algum modo, obrigou-se a voltar até ele, olhar
para ele. Viu-se de joelhos ao lado dele sem lembrança
de ter ajoelhado. Acariciou seu rosto, sua barba. Uma
das crianças fez um ruído e ela as olhou, olhou a mu-
lher que provavelmente fora a mãe delas. As crianças
retribuíram o olhar, assustadas, evidentemente. Talvez
tenha sido o medo que sentiam que finalmente a tocou.
Ela estava prestes a partir de carro e abandoná-
-las. Quase fez isso, quase abandonou duas crianças
de colo para morrer. Com certeza houve morte sufi-
ciente. Teria de levar as crianças para casa consigo.
Não seria capaz de lidar pelo resto da vida com qual-
quer outra decisão. Procurou à sua volta um lugar
para enterrar os três corpos. Ou dois. Se perguntou se
o assassino era o pai das crianças. Antes do silêncio,
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