Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 31
os policiais sempre diziam que alguns dos chama-
dos mais perigosos que atendiam eram chamados de
problemas domésticos. Obsidian deveria estar ciente
disso – não que esse conhecimento o mantivesse no
carro. Também não a teria detido. Ela não consegui-
ria ver aquele assassinato e não fazer nada.
Arrastou Obsidian na direção do carro. Não tra-
zia consigo nada com que pudesse cavar e ninguém
para vigiar enquanto cavasse. Melhor levar os cor-
pos e enterrá-los perto de seu marido e de suas crian-
ças. Obsidian iria com ela para casa, afinal.
Quando já o tinha colocado no assoalho dos ban-
cos de trás, voltou para buscar a mulher. A menini-
nha – magra, suja, solene – ficou de pé e, sem saber,
deu um presente para Rye. Quando Rye começou a
puxar a mulher pelos braços, a menininha gritou:
— Não!
Rye soltou a mulher e encarou a menina.
— Não! — a menina repetiu. Ela ficou em pé ao
lado da mulher. — Vá embora! — falou para Rye.
— Não fale — o menininho disse a ela. Não eram
sons sem articulação ou confusos. As duas crianças
falaram e Rye compreendeu. O menino olhou para o
assassino morto e afastou-se dele. Segurou a mão da
menina. — Fique quieta —, murmurou.
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