Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 27
coisas dele. E o melhor de tudo, o animal da casa em
frente recuaria e não a forçaria a matá-lo.
Obsidian a tinha puxado para perto dele, e ela apoia-
ra a cabeça em seu ombro quando ele pisou repenti-
namente no freio, quase arremessando-a para fora do
assento. Pelo canto do olho, ela viu que alguém atraves-
sou a rua correndo, na frente do carro. Um único carro
na rua e alguém tinha de atravessar na frente dele.
Ao se endireitar, Rye viu: quem corria era uma
mulher, fugindo de uma velha casa de madeira rumo
à uma loja fechada com tábuas. Corria em silêncio,
mas o homem que a seguiu um instante depois grita-
va o que pareciam palavras confusas enquanto cor-
ria. Ele tinha algo na mão. Não uma arma de fogo.
Uma faca, talvez.
A mulher tentou abrir uma porta, descobrindo que
estava trancada, olhou ao redor com desespero e, por
fim, arrancou um pedaço de vidro da vitrine quebra-
da. Com isso, virou-se para enfrentar seu perseguidor.
Rye pensou que o mais provável era que ela cortasse
a própria mão em vez de ferir alguém com o vidro.
Obsidian saltou do carro, gritando. Era a primeira
vez que Rye ouvia a voz dele, grave e rouca pela falta
de uso. Ele repetiu o mesmo som várias vezes, da for-
ma como as pessoas emudecidas faziam: “Da, da, da!”.
22