Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 20
queadas por carros destroçados e viadutos destruí-
dos. Tinha de saber como indicar Pasadena, mesmo
que não conseguisse reconhecer a palavra.
Hesitante, ela colocou a mão sobre uma mancha
de cor laranja desbotada no canto superior direito do
mapa. Deveria estar certo. Pasadena.
Obsidian levantou a mão dela, olhando por baixo;
então, dobrou o mapa e o colocou de volta no painel.
Com um pouco de atraso, ela percebeu: ele conse-
guia ler. Provavelmente também conseguia escrever.
Odiou o homem de forma brusca; um ódio profundo,
amargo. O que essa capacidade significava para ele,
um homem adulto que brincava de polícia e ladrão?
Mas ele era capaz de ler e escrever e ela não. Nunca
seria. Ela sentiu dores no estômago, de ódio, frustra-
ção e inveja. E a apenas alguns centímetros de sua
mão havia uma arma carregada.
Ela se segurou, encarando-o, quase enxergando
o sangue dele. Mas sua raiva se elevou, baixou e ela
não fez nada.
Obsidian buscou a mão dela com uma familiari-
dade hesitante. Ela olhou para ele. O rosto dela já
revelara muito. Ninguém que ainda estivesse vivo
no que restou da sociedade humana poderia deixar
de reconhecer aquela expressão, aquela inveja.
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