Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 21
Ela fechou os olhos, farta, e inspirou fundo. Tinha
vivenciado saudade do passado, ódio do presente,
uma desesperança, uma falta de sentido crescentes,
mas nunca tinha experimentado uma ânsia tão po-
tente de matar outra pessoa. Tinha finalmente saído
de casa porque esteve perto de se matar. Não encon-
trava motivo para continuar viva. Talvez tenha sido
por isso que entrara no carro de Obsidian. Nunca
tinha feito uma coisa dessas antes.
Ele tocou a boca dela e fez movimentos de fala
com o polegar e os dedos. Ela conseguia falar?
Ela assentiu e observou o ir e vir da inveja branda
dele. Agora os dois tinham admitido o que não era se-
guro admitir e não houve violência. Ele bateu de leve
na própria boca e na testa e balançou a cabeça. Não
falava nem entendia a linguagem falada. A doença
pregou uma peça neles, tirando-lhes, ela suspeitou, o
que cada um mais estimava.
Ela deu um beliscão na manga da camisa dele, se
perguntando por que ele decidira, por si mesmo, man-
ter vivo o Departamento de Polícia de Los Angeles
com o que lhe sobrara. Fora isso, ele estava são o su-
ficiente. Por que não estava em casa cultivando mi-
lho, criando coelhos e crianças? Mas ela não sabia
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