Projeto Cápsula Sons da fala | Octavia E. Butler | Page 16
Talvez estivesse apenas sozinho. Ela estivera sozi-
nha por três anos. A doença a assolara, matara suas
crianças, uma por uma, matara seu marido, sua
irmã, seus pais...
A doença, se é que era uma doença, tinha arran-
cado os vivos uns dos outros. Enquanto varria o
país, as pessoas mal tiveram tempo de pôr a culpa
nos soviéticos (embora eles estivessem silenciando
junto ao resto do mundo), em um novo vírus, um
novo poluente, radiação, justiça divina... A doença
foi certeira no modo como derrubou as pessoas e
como um derrame cerebral em alguns de seus sinto-
mas. Mas era muito específica. A linguagem sempre
era perdida ou severamente debilitada. Nunca era
recuperada. Muitas vezes, também havia paralisia,
debilidade intelectual e morte.
Rye caminhou até o homem de barba, ignorando
os assobios e aplausos de dois dos jovens e os pole-
gares para cima que faziam para o homem de barba.
Se ele tivesse sorrido para eles ou os tivesse legitima-
do de alguma maneira, era quase certo que Rye teria
mudado de ideia. Se tivesse permitido a si mesma
pensar nas consequências provavelmente mortais,
era quase certo que teria mudado de ideia. Em vez
disso, ela pensou no homem que morava em frente à
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