Projeto Cápsula Aqueles que Abandonam Omelas | Ursula K. Le Guin | Page 8

Não eram pessoas simples, veja bem, embora fos- sem alegres. Mas já não usamos muito as palavras de celebração. Todos os sorrisos se tornaram arcai- cos. Diante de uma descrição como essa, tem-se a tendência de fazer certas suposições. Diante de uma descrição como essa, tem-se a tendência de espe- rar pelo Rei, montado em um esplêndido garanhão e cercado por seus nobres cavaleiros, ou talvez em uma liteira dourada carregado por escravos muscu- losos. Mas não havia nenhum rei. Eles não usavam espadas ou mantinham escravos. Não eram bárba- ros. Não conheço as regras e leis de sua sociedade, mas suspeito que eram consideravelmente poucas. Assim como passavam bem sem a monarquia e a es- cravidão, iam em frente sem a bolsa de valores, a pu- blicidade, a polícia secreta e a bomba. Ainda assim, repito: não eram pessoas simples, nem pastores dó- ceis, bons selvagens, utópicos mansos. Não eram me- nos complexos do que nós. O problema é que temos o péssimo hábito, encorajado por pessoas pedantes e sofisticadas, de considerar a felicidade uma coisa um tanto idiota. Apenas a dor é intelectual, apenas o mal, interessante. Eis a traição do artista: a recusa em admitir a banalidade do mal e o terrível fastio da dor. Se você não pode com eles, junte-se a eles. 3