Projeto Cápsula Aqueles que Abandonam Omelas | Ursula K. Le Guin | Page 9
Se doer, repita. Mas louvar o desespero é condenar
o prazer, abraçar a violência é perder o controle de
todo o resto. Quase perdemos o controle; não pode-
mos mais descrever um homem feliz, nem celebrar a
alegria de qualquer maneira. Como posso falar sobre
as pessoas de Omelas a vocês? Elas não foram crian-
ças ingênuas e alegres, embora suas crianças sejam,
de fato, alegres. Eram adultos maduros, inteligentes,
apaixonados cujas vidas não foram desgraçadas.
Ah, milagre! Mas eu queria poder explicar me-
lhor. Queria poder convencer vocês. Nas minhas pa-
lavras, Omelas parece uma cidade de conto de fadas:
era uma vez, há muito tempo, em um lugar muito
distante... Talvez fosse melhor se vocês a imaginas-
sem como manda a fantasia de cada um, partindo
do princípio de que isso esteja à altura das circuns-
tâncias, porque eu certamente não posso satisfazer
a todos vocês. Por exemplo, e quanto à tecnologia?
Acho que não haveria carros nas ruas ou helicópte-
ros sobrevoando-as; isso é decorrência do fato que as
pessoas de Omelas são felizes. A felicidade é baseada
em um discernimento justo sobre o que é necessário,
o que não é nem necessário nem destrutivo e o que é
destrutivo. No entanto, na categoria intermediária,
aquela do que não é necessário, mas não é destru-
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