Projeto Cápsula Aqueles que Abandonam Omelas | Ursula K. Le Guin | Page 10
tivo, aquela do conforto, luxo, exuberância etc., os
moradores de Omelas poderiam muito bem dispor
de aquecimento central, metrô, máquinas de lavar e
todos os tipos de magníficos equipamentos ainda não
inventados aqui: fontes de luz flutuantes, energia li-
vre de combustíveis, a cura do resfriado comum. Ou
poderiam não ter nada disso: não importa. Como vo-
cês quiserem. Estou inclinada a pensar que habitantes
de cidades ao longo da costa iam a Omelas duran-
tes os dias que antecediam o Festival em trens super
velozes e bondes elétricos de dois andares e que a
estação ferroviária de Omelas é, na verdade, o edifí-
cio mais bonito da cidade, embora mais simples do
que o suntuoso mercado agrícola. Mas, mesmo que
haja trens, temo que por enquanto Omelas pareça a
alguns de vocês apenas boa. Sorrisos, sinos, desfiles,
cavalos, blábláblá. Se for o caso, por favor, acrescen-
tem uma orgia. Se a orgia ajudar, não titubeiem. Mas
não vamos criar templos de onde saiam lindos sacer-
dotes e sacerdotisas nus, já parcialmente em êxtase e
prontos para copular com qualquer homem ou mu-
lher, amante ou desconhecido, desejando unir-se à
insondável divindade do sangue, embora essa tenha
sido minha ideia inicial. Mas seria melhor que não
houvesse templos em Omelas – ao menos não tem-
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