Projeto Cápsula Aqueles que Abandonam Omelas | Ursula K. Le Guin | Page 16
Normalmente, isso é explicado às crianças quan-
do elas têm entre oito e doze anos, quando parecem
capazes de compreender; e a maioria das pessoas
que vão ver a criança são jovens, embora, com certa
frequência, um adulto apareça ou retorne para vê-
-la. Não importa o quanto o assunto seja bem expli-
cado, esses jovens espectadores sempre se chocam
e sentem náuseas diante da visão. Sentem repulsa,
embora se considerem superiores à repulsa. Sen-
tem raiva, indignação, impotência, apesar de todas
as explicações. Gostariam de fazer alguma coisa
pela criança. Mas não há nada que possam fazer. Se
a criança fosse trazida para cima, à luz do sol, fora
daquele lugar desprezível, se fosse limpa, alimenta-
da e reconfortada, de fato, isso seria algo bom; mas
se fosse feito, naquele dia e hora, toda a prosperida-
de, a beleza e o prazer de Omelas feneceriam e se-
riam destruídos. Eram esses os termos. Trocar todo
o bem e a dádiva de cada vida de Omelas por aquele
pequeno e único benefício: jogar fora a felicidade
de milhares pela possibilidade de felicidade de um
só, isso seria, sem dúvida, deixar a culpa entrar pe-
las paredes.
Os termos são rigorosos e absolutos: não pode ha-
ver sequer uma palavra afável para a criança.
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