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INTRODUÇÃO
dispensa de escolher uma ordem de prioridades. No que diz
respeito a políticas sociais e programas, não se faz exatamente
a mesma coisa quando se dá preferência a uma ou a outra.
Por exemplo: não é a mesma coisa apostar no aumento dos
baixos salários e na melhoria das condições de vida nos bairros
carentes e fazer com que as crianças desses bairros tenham as
mesmas oportunidades que as outras de ascender à elite em
função do mérito. Citemos um exemplo ainda mais claro: não é
a mesma coisa que as minorias étnico-raciais conquistem uma
representação equitativa no Parlamento e nas mídias e que os
cargos que essas minorias ocupam na estrutura e nos serviços
públicos sejam transformados, a fim de torná-los mais rentáveis e menos penosos. Posso abolir uma posição social injusta
ou permitir que os indivíduos escapem dela sem questionar tal
posição. E, ainda que eu deseje conquistar as duas coisas, eu
realmente preciso escolher o que farei primeiro. Em uma sociedade rica, mas obrigada a estabelecer prioridades, o argumento segundo o qual tudo deve ser feito da forma ideal não
resiste aos imperativos da ação social. Se não quisermos ficar
somente teorizando com palavras bonitas, somos forçados a
escolher a via que nos parece mais justa e eficaz.
A escolha se impõe ainda mais porque esses dois modelos de justiça social não são somente representações teóricas.
Na prática, eles são sustentados por movimentos sociais diferentes, privilegiando grupos e interesses também diferentes.
Eles não mobilizam os mesmos atores e não colocam em jogo
os mesmos interesses. Eu não ajo da mesma forma quando
luto para melhorar a minha posição ou quando luto para ampliar as minhas chances de escapar dela. No primeiro caso,
o ator é definido pelo seu trabalho, sua função, sua utilidade
e até pela exploração que ele sofre. No segundo caso, ele é
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