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A relva era verde: seria uma lembrança histórica? Não é impossível. Os conhecedores da Palestina não deixariam de confirmar que realmente, na margem oriental do lago de Ge­­­ -ne­­­­­zaré, existe uma relva que fica muito verde na primavera. Mas se a tradição e o evange­ lista transmitiram essa imagem não foi por um interesse de cunho primariamente geográfico, mas pelo valor teológico que essa imagem sugeria3. O detalhe da relva verde é, na verdade, surpreendente numa cena que se passa — como se repete várias vezes — num lugar deserto (Mc 6,31.32.35). Esse mesmo lugar deserto, ainda que se tratasse de uma lembrança histórica, não queria ser uma simples informação destinada a satisfazer a curiosidade do leitor. Antes, sugeria uma referência à experiência de Israel durante o Êxodo e queria, portanto, despertar o leitor para uma inteligência “teológica” do texto: o próprio JHWH nutre o seu povo. Jesus repetiu o milagre do maná ocorrido durante o Êxodo e esperado novamente para os tempos messiânicos (significado que o milagre da multiplicação já podia ter para Jesus histórico). Jesus dividiu a multidão em grupos de cem e de cinqüenta? É pouco provável! Neste caso, a narração não queria descrever o que aconteceu efetivamente. Na intenção do autor, tratava-se 3) Provável alusão ao tema do Pastor que conduz o povo de Deus para «verdes pastagens» (Sl 22/23,2), ou ao anúncio dos tempos messiânicos de Isaías: «Alegrem-se o deserto e a terra seca, rejubile-se a estepe e floresça» (Is 35,1ss). 22