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pensar mundo unido rostos cansados, de olhares feridos e de passos pesados. Não agüentando mais, entrei numa igreja, não moderna, não iluminada por mil vitrais sublimes, mas fresca, daquele frescor úmido e cortante das galerias do metrô. Prostrado numa cadeira, empalhada e marcada a fogo com uma cruz, como os escravos, deixei que os batimentos do meu coração se acalmassem. Chorei ao ver tão pouca beleza onde esperava mais. Mas com seu silêncio, quem me hospedava em suas paredes deu-me a entender que não tinha os mesmos critérios que os meus. Explicou-me isso com grande doçura, sem me dar uma lição, sem me ferir. E deixou-me pensar que a idéia era minha. Deus sem a beleza Durante o verão de 1959, em férias nos Alpes Dolomíticos, vivi uma experiência estranha: a intimidade com Deus separou-se repentinamente do prazer estético. Sentia Deus muito perto de mim, mas todo prazer estético havia desaparecido, de forma que a natureza ao redor, que eu sabia ser maravilhosa, pareceu-me completamente esvaziada, fria, morta, igual ao cenário de um teatro. Essa ausência de Deus na natureza (isto é, o belo) tocoume de modo especial numa segunda-feira, quando, passeando pela montanha, alcançamos um lugar encantador: uma parede rochosa das Dolomitas parcialmente acariciada pelo pôr-do-sol e coroada por um céu límpido de puro azul cobalto… Eu observava aquela fonte de beleza e queria beber, mas ela estava completamente seca, e fiquei sedento e perturbado. Ao regressar à cidade, caminhando pela rua principal, refleti sobre essa impres­ são que, há dias, não me deixava, mas que se tornou inconfundível — sendo que, a