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Economia
civil
com a abordagem das capacitações (capability approach) de Amartya Sen e Marta
Nussbaun é explícito. Ambos agregam uma fundamental dimensão militante à sua
atividade de pesquisa, que se traduz em seu papel decisivo na chamada “economia da
comunhão”, cuja preocupação central está em colocar a ética no centro das atividades
econômicas.
O termo economia civil tem três significados básicos. O primeiro deles contesta
o mito de que o nascimento da economia moderna é marcado exclusivamente pelas
trocas impessoais, anônimas desprovidas de vínculos comunitários e funcionando tanto melhor, quanto menos contaminadas pela política, pela ética ou pela moral. Bruni e
Zamagni mostram a força do humanismo cívico do Quattrocento italiano e a profunda unidade existente entre economia e caridade nas mais notáveis organizações
econômicas do início do Renascimento. Esta tradição aparece mais tarde na obra de
Antonio Genovesi, iluminista da escola de Nápoles, segundo o qual a ausência de laços
cívicos de confiança entre os cidadãos, de compromissos morais relativos à maneira de
organizar a sociedade, é um obstáculo ao desenvolvimento do mercado. Reciprocidade
e dádiva, por um lado, mercados e contratos, por outro, não são mundos hostis que a
modernidade tratou se separar, mas estão permanentemente imersos uns nos outros.
A ideia de economia civil se insurge contra este mito da idade moderna segundo o qual
a esfera dos interesses econômicos pouco tem a ver com a do civismo, da qualidade dos
vínculos sociais entre os cidadãos. É a razão pela qual, no subtítulo do livro e em todo
o seu conteúdo — e contrariamente a uma forte tradição da microeconomia contemporânea — eficiência e equidade são apresentados conjuntamente e não como manifestações inevitáveis de dilemas (trade-offs) em torno dos quais as sociedades farão suas
escolhas de Sofia.
Daí vem o segundo significado da economia civil. Civitas (e pólis, do grego) não se reduz a atributos como o respeito à lei e o cumprimento dos contratos.
Não se trata apenas da dimensão negativa da liberdade (ser livre de, ou seja, estar
isento de dependências e constrangimentos), mas de sua forma positiva, ser livre
para: liberdade para realizar o necessário à afirmação de sua própria pessoa.
E é neste sentido que a economia civil resgata a tradição aristotélica da boa sociedade, daquela que oferece às pessoas as liberdades para que possam desfrutar de
uma vida construtiva e interessante. A tradição utilitarista de Benthan reduziu
o conceito ari