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Prefácio
da raridade ou da alocação de recursos escassos entre fins alternativos, foram afastadas as categorias de pensamento necessárias a uma reflexão mais abrangente e
generosa a respeito da interação social. Com isso, o sentido, a razão de ser, os fins
morais últimos da relação entre os homens e o mundo material de que dependem
deixaram de pertencer à esfera da ciência econômica. O resultado está num dos
maiores dilemas não só da ciência econômica, mas da vida econômica contemporânea, ao qual o livro dedica um rico e didático capítulo. Estudos levados adiante
nos últimos trinta anos revelam o que o economista e demógrafo norte-americano
Richard Easterlin chamou de paradoxo da felicidade na economia. Suas pesquisas
indicam basicamente que não há relação entre riqueza objetiva e sentimento de felicidade. A metáfora da esteira rolante é útil para explicar o fenômeno: corre-se para
não sair do lugar. O que essas pesquisas mostram é que a felicidade está muito mais
associada a relações humanas enriquecedoras que à pura obtenção de mercadorias.
É óbvio que não se trata de ignorar a satisfação das necessidades dos indivíduos,
mas sim de contestar a ideia de que o permanente aumento em sua renda e em seu
consumo é a base para que ampliem sua realização pessoal.
O terceiro sentido da economia civil evoca as organizações não governamentais, sem finalidades de lucro e, num certo sentido, a própria economia solidária. Mas
não se trata de considerar esse setor isoladamente, como uma espécie de lado nobre da
vida social, por oposição à economia privada. Esse dualismo maniqueísta bloqueia
a percepção de que “a fisiologia, o funcionamento normal, a vocação do mercado é
representar um momento da vida civil”. É claro que o mercado pode ser e, de fato, tem
sido profundamente anticivil e destrutivo, com a concentração da renda e a devastação ambiental, por exemplo. Mas estas patologias serão tanto mais severas quanto
mais o mercado estiver separado do humanismo civil que, segundo Bruni e Zamagni,
está na sua origem. Público e privado, mercado e Estado, contrato e reciprocidade, interesse e dádiva: as ciências sociais podem convergir para superar estas oposições e, por
aí, como mostra a economia civil, contribuir para a construção de um mundo em que
os valores éticos que mais prezamos não estejam em confronto com o funcionamento
real da vida econômica.
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