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Uma
visão de conjunto
suportar. Afinal, se a única motivação que induz os indivíduos a atuar no mercado fosse a busca do resultado máximo (quer em termos de utilidade, quer de
lucro), certamente não poderíamos pretender que esses agentes não considerassem a trapaça, o oportunismo e a exploração como opções possíveis. Mas é
evidente que, quanto mais esse pressuposto se disseminasse entre os agentes,
até se tornar habitus cultural, mais eles seriam induzidos a comportarem-se segundo esse cânon. Segundo, se o mercado for uma instituição intrinsecamente
injusta, incapaz de satisfazer as necessidades humanas autênticas, tendendo
inexoravelmente a reduzir toda e qualquer relação interpessoal a mercadoria,
então caberá ao Estado ou à sociedade civil — conforme a preferência — a
tarefa de restabelecer a ordem do ponto de vista ético — o primeiro impondo
proibições e controles, a segunda criando espaços de ação alternativos. Mas
como poderia uma mesma pessoa que vivesse nas três esferas sociais — o que
necessariamente acontece — comportar-se de acordo com códigos simbólicos e cânones de ação tão profundamente antagonistas, sem correr o risco de
se tornar esquizofrênica?
A abordagem que promovemos é a que na teoria evolucionista dos
jogos é conhecida como coevolução. A questão é compreender o que acontece, que configuração social surge ao longo do tempo quando, em determinada sociedade, os três princípios, quando postos em prática, se contagiam
e/ou colidem entre si. Não é tema deste livro, mas pode ser interessante o
leitor saber que já dispomos de resultados iniciais encorajadores (cf. Sacco e
Zamagni, 2002), mostrando que, sob um leque até amplo de condições, uma
ordem social em que a troca de equivalentes, a redistribuição e a reciprocidade marchem juntas é possível e sustentável.
Para evitar equívocos, cabe precisar que de modo algum afirmamos
que o mercado não viveu momentos de degeneração, no passado e no presente
(pensemos no número significativo de organizações criminais que se valeram
dos mecanismos de mercado para se fortalecerem) nem que não foi causa de
graves injustiças (bastaria considerar o aumento sistemático das desigualdades
sociais, apoiado e alimentado inclusive pelo mercado). O que queremos dizer
é que, por mais forte que seja a evidência de tudo isso, não vale para demonstrar
que o mercado, por natureza, deva necessariamente funcionar de acordo com
essa regra. São exemplos circunscritos, mas eloquentes e significativos disso,
a economia de comunhão, o microcrédito, o comércio equânime e solidário,
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