Preview dos produtos 5678023e92962708676526pdf | Page 26

Economia civil todas instituições que se servem dos mecanismos de mercado para alcançar fins de natureza social. Outro exemplo é o dos mercados de qualidade social, de que falaremos no capítulo Capítulo viii. O que nos interessa dizer aqui é que, se permanecermos na lógica dos setores (ou das esferas), realmente correremos o risco de desperdiçar nosso tempo em batalhas intelectuais estéreis e inconclusivas. Consideremos, por exemplo, a polêmica — não apenas teórica — entre aqueles que são favoráveis à concessão do chamado “isomorfismo organizacional” às organizações da sociedade civil (que, com isso, tenderiam, a longo prazo, a convergir para o modo de agir das empresas com fins lucrativos) e aqueles que lutam pela conservação — a todo custo — dos nichos específicos dessas organizações. Pois bem: num contexto de dinâmica evolutiva, problemas assim não têm razão de ser. Tem muito pouca serventia questionar-se a respeito do que fazer para preservar — de maneira mais ou menos intacta —, ao longo do tempo, a esfera dos sujeitos que trabalham com base no princípio de reciprocidade ou, em outras palavras, o que fazer para afastar o risco da homogeneização das organizações sem fins lucrativos e das que visam ao lucro. Em vez disso, o importante é verificar quanto e de que forma a lógica de ação das organizações sem fins lucrativos consegue penetrar a lógica de ação das organizações com fins lucrativos, contaminando-a. E viceversa. Por outro lado, mesmo que alguém consiga — mediante instrumentos legislativos ou de outra natureza — defender tenazmente o nicho do Terceiro Setor, seria acaso uma boa sociedade aquela em que as outras duas esferas (o mercado e o Estado) seguissem por conta própria, cada qual em conformidade com seu princípio exclusivo, a saber, a troca de equivalentes e a redistribuição? Não acreditamos nisso, e por uma razão fundamental: porque cremos no progresso moral. A definição dada por Rorty de progresso moral parece-nos pertinente: “Um aumento em nossa habilidade de aceitar cada vez mais que as diferenças entre as pessoas são moralmente irrelevantes” (2005, p. xx). 4. A globalização está estendendo formidavelmente o espaço de aplicação do contrato (a ponto de, para muita gente, globalização ter-se tornado sinônimo de mercados globais), tendendo a reduzir — como um efeito algumas vezes não intencional — a zona de ação da redistribuição e do dom. Mas uma “aldeia global” não construída em torno dos três princípios não consegue sobreviver por muito tempo e bem. 26