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Uma
visão de conjunto
podem existir, mas tampouco a própria sociedade. De outro, a liberdade em
sentido positivo, ou seja, a possibilidade de cada sujeito realizar seu plano de
vida e, portanto, a possibilidade de ser feliz no sentido da eudaimonia aristotélica. Se a liberdade em sentido negativo expressa a ausência de obrigações
ou vínculos, sendo, por conseguinte, liberdade de algo, a liberdade em sentido
positivo é liberdade para algo, liberdade para autorrealizar-se — e é disso que
depende a felicidade. Uma sociedade que consiga unir eficiência e equidade — e isso já seria uma bela meta — não é ainda uma sociedade boa para viver
se lhe faltar a reciprocidade, que é o princípio que traduz em fatos o espírito de
fraternidade — palavra que infelizmente caiu em desuso depois que a Revolução de 1789 a elevou à categoria de bandeira.
Ainda existe um número muito grande de pessoas, mesmo entre especialistas, que identifica a fraternidade com a solidariedade, não conseguindo ver que, enquanto esta última é compatível com a perspectiva impessoal,
a fraternidade postula a perspectiva pessoal. Podemos ser solidários com
quem não conhecemos — uma vez que a solidariedade se volta para uma comunidade abstrata —, a fraternidade, porém, gera uma espécie de relação, de
reciprocidade. Os irmãos são solidários, mas o contrário não é verdadeiro. A
fraternidade é antipaternalista (embora pressuponha a paternidade); o mesmo
não se dá com a solidariedade. Como escreve Viola (cf. 2002), o específico da
fraternidade é a diferença entre sujeitos idênticos. Ser irmão significa sublinhar a diversidade do igual, e não a identidade na diferença, como ocorre com
a solidariedade.
Pois bem, o ponto para o qual gostaríamos de chamar a atenção é
que, em nossas sociedades contemporâneas, ninguém nunca conseguiu (até
hoje) suscitar uma ordem social em que os três princípios pudessem conviver,
contagiando-se mutuamente. O máximo que se traduziu em prática foi dois
princípios de cada vez. Com que resultado?
Consideremos o que acontece (como ocorreu historicamente) quando o princípio da reciprocidade é marginalizado ou, de alguma forma, não
valorizado. Advém daí o modelo do Estado de bem-estar social, como