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Economia
civil
deveriam ter valor por serem titulares de direitos apenas enquanto capazes
de calcular? (1985, p. 72)
3. É grande o número de estudiosos que recordam que uma ordem
social, qualquer que seja, precisa de três princípios reguladores, distintos, mas
não independentes, para poder-se desenvolver de modo harmônico e ser, por
conseguinte, capaz de futuro: a troca de equivalentes (ou contrato), a redistribuição da riqueza e o dom como forma de reciprocidade. As sociedades
desenvolvem-se de modo harmonioso quando todos esses três princípios são
ativos e bem combinados, quando se preserva essa estrutura “triádica”.
Isso não é difícil perceber. Perguntemo-nos qual é a finalidade específica que cada um dos princípios promete realizar. A finalidade da troca de equivalentes é a eficiência. Uma economia em que as trocas (de bens e serviços)
entre agentes se dão com base no princípio segundo o qual tudo o que é dado
ou feito recebe uma contrapartida de valor equivalente é uma economia que,
sob um conjunto de condições bem robusto — para maior clareza, as condições do sistema teórico de Walras —, consegue assegurar um uso eficiente dos
recursos, evitando vários tipos de desperdício. Isso é certamente uma boa notícia; de fato, a história nos traz exemplos de civilizações que desapareceram ou
não ultrapassaram o estado estacionário por não terem sido capazes de resolver a questão-chave da eficiência.
E o princípio de redistribuição, ao que visa? À equidade. Não basta
que um sistema econômico seja eficiente na produção da renda; ele deve também encontrar um modo de redistribuí-la de maneira equânime entre aqueles
que contribuíram para gerá-la. E isso não apenas por razões de natureza ética,
bastante fáceis de compreender — independentemente da teoria ética específica que se abrace —, mas também por razões propriamente econômicas. O
próprio sistema de mercado não pode funcionar bem a longo prazo, se parcelas consideráveis de seus membros não têm acesso a ele por falta de poder de
compra. Todos conhecemos países que, mesmo bem munidos de capital físico
e capital humano, regrediram miseravelmente por não terem sabido aplicar a
regra da equidade.
Por fim, qual é o objetivo último da reciprocidade? De um lado, a
consolidação do vínculo social, do bond of society (como dizia Locke), ou, em
outros termos, a confiança generalizada, sem a qual não só os mercados não
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