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Economia
civil
econômica normal; nem paralela, nem anterior, nem posterior. A economia
civil diz que outros princípios, além do lucro e da troca instrumental, podem —
querendo — encontrar espaço dentro da atividade econômica.
Dessa forma, certamente supera-se a primeira visão, que — como dissemos — vê o econômico (os mercados) como lugar eticamente neutro, baseado unicamente no princípio da troca de equivalentes. De fato, é o próprio
momento econômico que, com base na presença ou ausência desses outros
princípios, se torna civil ou incivil.
Mas supera-se também a outra concepção, que vê o dom e a reciprocidade como apanágio de outros momentos ou esferas da vida civil, visão —
ainda hoje arraigada em várias expressões do Terceiro Setor — que já não se
sustenta. E isso por no mínimo duas razões, que desenvolveremos ao longo do
livro, mas que desejamos antecipar.
Em primeiro lugar, na era da globalização, a lógica dos “dois tempos”
(antes, as empresas produzem; depois, o Estado cuida do social) não funciona
mais, pois desapareceu o elemento básico dessa lógica: a estreita ligação entre
riqueza e território, em cuja base foi concebido o sistema do bem-estar social
no Ocidente, particularmente na Europa. Hoje, com o imponente avanço da
globalização dos mercados, esse mecanismo se rompeu. Dito de outra maneira, se, durante a fase histórica do fordismo, o ponto de vista “nacional” podia
conciliar os interesses do Estado, das empresas e dos cidadãos (“o que é bom
para a Ford é bom para o país”, poder-se-ia dizer nos eua no início do século
xx), hoje essa coincidência de objetivos está desaparecendo. O interesse do
Estado em conservar sua cota de soberania sobre o território não coincide necessariamente com o interesse das empresas em atuar livremente nos mercados internacionais em busca de melhores oportunidades de lucro, nem com o
interesse dos cidadãos em obter melhor qualidade dos produtos que demandam e em conseguir espaços mais amplos de autogoverno do território.
Eis por que, se insistirmos em pensar que a redistribuição deve ser tarefa exclusiva do Estado e deve acontecer post factum, assistiremos inertes e hipocritamente desolados ao aumento da desigualdade.
É preciso agir também no momento da produção da riqueza. Nas
condições atuais, atuar apenas na redistribuição é demasiado tarde. Por conseguinte, o que se exige da empresa é tornar-se “social” na normalidade de sua
atividade econômica. Hoje, muitos reconhecem essa exigência, a ponto de se
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