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É igualmente necessária a quarta e a mais esquecida das virtudes: a temperança. Ela exprime a necessidade da moderação,
em oposição a tudo aquilo que se revela exagerado, excessivo,
que supera o limite invisível, mas real, do conveniente.
É experiência comum que muitas coisas possam ser oportunas, mas “até certo ponto”. O excesso muda a natureza íntima das coisas, desvirtuando-as em sua capacidade de serem
boas. Assim, o excesso de gentileza pode tornar-se bajulação, os
elogios demasiados transformam-se em adulação, a narração incessante dos próprios méritos torna-se vanglória presunçosa. A
exatidão pode virar pedantismo, a sobriedade pode perder a sua
característica de virtude e transformar-se em avareza, e a proteção excessiva dos filhos pode tornar-se uma redoma opressiva.
O limite separa a coragem da imprudência; distingue entre contentar o filho e viciá-lo; entre estar ao lado dele e ser
pegajoso e inconveniente.
Ser bom “demais” sugere uma motivação inconsistente,
que impede ser realmente tal, ser realmente bom.
A falta de limite é uma nota desafinada, logo percebida
como ausência de perfeição necessária, que suscita uma desconfiança instintiva, uma suspeita de ausência de autenticidade.
Portanto, o amor é verdadeiro se respeita um limite, se
não “vai longe demais”, se sabe dizer: basta! quando o bem
do filho assim o exige.
Abomina as formas de doação de si marcadas pelo “custe o que custar”, pelo “deixar tudo de lado”, sobretudo pelo
bem do filho.
A virtude da temperança foi classicamente relacionada
aos comportamentos de moderação em determinados atos
(como comer e beber), mas é rica de implicações relacionais.
O seu ensinamento – muitas vezes esquecido – indica que o
limite é uma condição necessária para que uma relação seja
boa, em conformidade com o amor.
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• amor demais
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