OPINIÃO
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João Marques
Música
A música portuguesa já viu dias melhores, mas também já viu piores. São cada vez mais os conjuntos musicais nacionais que chegam aos ouvidos dos ouvintes, quer seja através da rádio ou das mais recentes plataformas digitais feitas à medida da indústria, como o Soundcloud, Spotify ou até o mais erudito Tradiio. As redes sociais também não podem ser postas de parte: uma página de Facebook bem gerida é a maneira ideal de fazer chegar rapidamente a música nova a amigos de amigos. Mas há coisas que nunca mudam, em Portugal ou no estrangeiro.
Os concertos são ainda uma necessidade, mas aqui o panorama inverteu-se e graças às redes sociais. Se antes os artistas tocavam ao vivo para vender álbuns, hoje o lucro está em fazer álbuns para tocar concertos. O dinheiro não está em gravar, mas sim em tocar, entreter ao vivo. Parece assim simples assumir a proliferação dos DJ ́s (que de verdadeiros Disco-Jóqueis pouco têm) e da música eletrónica como algo natural. Naturalidade essa a que poucas bandas de rock se souberam adaptar, perdendo terreno para esta música mais plástica e despida de intenções que não a faturação. Contudo, há uma exceção: uma banda que há muito largou as três nomeações de melhor música rock e decidiu derivar para o campo da pop eletrónica com hits como Paradise - os Coldplay. A verdade é que o grupo apesar de ter desiludido alguns fãs conseguiu reinventar-se de maneira brilhante com jogos de luzes, coreografias, palcos dignos de produções da Broadway e pirotécnicos que vão além do simples foguete e das colunas de fogo. Crédito ao génio de Chris Martin.
O próprio processo de produção também está mudado. Longe vão os tempos dos gravadores analógicos de 8 pistas, do aluguer caríssimo do estúdio, das letras que caem no esquecimento e que não chegam a ouvir os acordes da guitarra por não serem aquilo que o representante procura. Já não é preciso cair nas boas graças de um qualquer agente, que se apropria da criação dos artistas a troco de os vender. Hoje, mais que nunca, o artista está em total controlo do seu destino. É possível gravar em casa com equipamento avaliado em algumas centenas de euros, a internet substitui o agente em pequena escala e os canais de distribuição, como as tais plataformas amigas da música, estão à distância de uns cliques.
destino. É possível gravar em casa com equipamento avaliado em algumas centenas de euros, a internet substitui o agente em pequena escala e os canais de distribuição, como as tais plataformas amigas da música, estão à distância de uns cliques.
Não é difícil ser conhecido, é sim difícil fazer boa música. É por isto que a música portuguesa já viu melhores dias. O boom do Punk português, na segunda metade da década de 80, é o melhor exemplo. Olhando para trás, é difícil encontrar algo que soe minimamente bem (no que ao verdadeiro punk diz respeito) e naquele panorama a palavra harmonia pode nem existir, mas ao menos tem significado. Aquelas gravações tinham um propósito que não o de fazer dinheiro e isso por si só faz delas música da boa. X-Ato e Ku de Judas não eram empresários à procura do sucesso, eram sim jovens com algo a expressar.
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Backbeat
"Uma página de Facebook bem gerida é a maneira ideal de fazer chegar rapidamente a música nova a amigos de amigos"
E a música em Portugal, onde para?