Pontivírgula - Edição Setembro 2017 Pontivírgula - Edição Setembro 2017 | Page 25

OPINIÃO

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O Outro Lado da Muralha

Direitos Humanos na China

O Governo Central patrocina as migrações de chineses Han para a região com subsídios avultados e promessas de trabalho. Esta política, tal como no Tibete, tem sido frutífera. Os chineses Han são atualmente a maioria na região e os Uigure a minoria. Isto é especialmente verdade em Urumqui, a capital da província, onde mais de 70% dos habitantes são Han. As escolas também tem sido alvo de reformas - as aulas são em Mandarim e ensinam-se os princípios socialistas alinhados com as crenças do PCC. Existe também outro tipo de "escolas", mas estas não são para crianças. As "Escolas de Educação Profissional", anteriormente conhecidas como "Escolas de Educação Socialista" e "Escolas Antiterrorismo", reeducam pessoas consideradas suspeitas ou perigosas pelo PCC. As pessoas (surpreendentemente, pertencentes à minoria Uigure) são presas extrajudicialmente, sem direito a julgamento, e cortam-lhes todo o contacto com o exterior. A "reeducação" é por tempo indefinido, muitas vezes ao longo de meses ou anos. Não se sabe bem o que acontece nestes campos, escondidos no meio dos desertos áridos de Xinjiang, mas o seu propósito oficial é reeducar com os princípios políticos socialistas e eliminar ideologias extremistas. Infelizmente, estes campos não são novidade na China.

São usados para "reeducar" outras minorias, como tibetanos, cristãos e praticantes de Falun Gong. Estes últimos não são vistos de volta quando vão para os seus campos de educação, em parte porque lhes tiram os órgãos para fazerem transplantes em toda a China. Xinjiang tem uma importância indiscutível na geopolítica chinesa, formando uma fronteira natural com imensos recursos valiosos. Contudo, as tensões entre os Han e os Uigure aumentam de dia para dia e a repressão também. Liberdade é uma palavra demasiado ocidental para Xinjiang. É possível que estes crimes ocorram porque os Uigure não têm um líder carismático, como o Dalai Lama do Tibete, para os defender e alertar a comunidade internacional para as atrocidades cometidas. Talvez, numa época em que os muçulmanos são vistos como o inimigo, numa era de ataques extremistas às cidades europeias, seja difícil simpatizar com a causa muçulmana na China. Mas talvez o conhecimento da situação possa mudar isto. A China ameaça tornar-se num "1984" da atualidade, defendida pela sua imponência na economia global. Um olhar para o outro lado da Muralha é um primeiro passo para a mudança.

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©Asia News