OPINIÃO
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O Outro Lado da Muralha
Francisco Monteiro
Direitos Humanos na China
São constantes os elogios à China pelo impressionante crescimento económico que atingiu. Claro que o seu reconhecimento é merecido, mas há algo que fica esquecido pelas notícias e pelos políticos. A maior vitória da China nos últimos anos não é, como seria de esperar, o boom económico, mas sim ficar incólume pelos crimes que comete e perpetua nos seus cidadãos. Protegida, claro está, pela dependência económica dos outros países, poucos se atrevem a questionar ou comentar o que se passa atrás da Grande Muralha. Contudo, esta coluna servirá esse propósito - de mostrar que por detrás dos números e gráficos, a China é um país preso sobre as correntes de um partido único, com censura e controlo estatal que se assemelham às mais negras previsões orwellianas.
É importante salientar, desde já, uma distinção entre a China e o PCC (Partido Comunista Chinês). A China é uma nação milenar, com uma longa tradição cultural, enquanto que o PCC surgiu com a Revolução Cultural de Mao Zedong, no séc. XX. Também importa relevar que esta coluna é apolítica - i.e., não se trata de ser contra a doutrina política em vigor, mas sim contra os crimes que a mesma efetua. Dito isto, passemos ao tema deste mês.
A China é um país imenso, de proporções que mais se assemelham a continente do que a país. Como tal, tem também uma grande diversidade de etnias, línguas e religiões. Contudo, estão todos sobre um mesmo Estado/PCC, então têm necessariamente de se submeter às mesmas regras. Há exemplos estranhos disto - como o facto de, não obstante à sua imensidão geográfica, a China reger-se por um só fuso-horário, centrado, naturalmente, em Pequim. Todavia, há outros exemplos de uniformização mais extremos. A província de Xinjiang, no oeste do país, é das mais importantes do país - tem as reservas de petróleo e gás e é a maior província da China. É, contudo, habitada por uma minoria étnica muçulmana - os uigure. O PCC sempre teve uma atitude pouco tolerante com as minorias no país, mas os uigure são das mais perseguidas. Aquando do ataque de 11 de Setembro nos
da China. É, contudo, habitada por uma minoria étnica muçulmana - os uigure. O PCC sempre teve uma atitude pouco tolerante com as minorias no país, mas os uigure são das mais perseguidas. Aquando do ataque de 11 de Setembro nos EUA, a China viu a oportunidade perfeita para lançar uma campanha de controlo na região, afirmando que, sendo muçulmanos, eram um centro de instabilidade e terrorismo no país. Começou, então, uma bruta campanha de limpeza étnica, cultural e religiosa.
Hoje em dia, o nome Mohammed é proibido; os muçulmanos não podem seguir o calendário religioso no Ramadão e são obrigados a comer; as burkas e as barbas longas e "anormais" são proibidas; foram instaladas mais de 40 mil câmaras de segurança nas cidades e mesquitas; existem postos de segurança com polícia e equipas paramilitares nas estradas. Este ano, surgiram outras diretivas por parte do Governo Central - carros particulares são obrigados a instalar GPS, de modo a serem seguidos constantemente por oficiais da região; os telemóveis dos uigure terão um spyware instalado que grava tudo, incluindo sms, dados de wifi e toda a informação pessoal. Os postos de segurança controlam e verificam se este spyware está instalado. Os militares armados espalhados nas cidades também auxiliam neste controlo.
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"Poucos se atrevem a questionar ou comentar o que se passa atrás da Grande Muralha"