Pontivírgula - Edição Setembro 2017 Pontivírgula - Edição Setembro 2017 | Page 23

OPINIÃO

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Realpolitiks

Política

Beatriz Rodrigues

Vale a pena falar de política hoje?

Se vamos passar um ano juntos, acho que vale a pena começar por questionar aquilo que me proponho a fazer: será relevante uma coluna de política, numa publicação universitária? O estimado leitor estará por esta altura a estranhar. Questionar o propósito da coluna na primeira vez que a expõe ao mundo pode não ser o melhor dos começos. Nada tema. Sempre fui dada às questões – daí também a escolha do curso. Ainda assim, e passados os primeiros obstáculos, chegaremos a alguma conclusão. Assim o espero, pelo menos.

Afinal de contas, queremos nós – os jovens – saber de política? A resposta fácil e genérica seria dizer que não. As taxas de abstenção são cada vez mais altas. O alheamento parece geral e não é difícil encontrar quem ache “os partidos todos iguais”, “que não nos representam verdadeiramente”, “que não estão próximos”. Também eu partilho destas opiniões, em parte. Mas, e é aqui que para mim reside o ponto fundamental, não é por não nos identificarmos com os políticos ou com os partidos tradicionais que podemos negligenciar ou ignorar a importância que têm nas nossas vidas.

Passemos então a exemplos muito concretos (e até óbvios), mas necessários. A política está em todas as esferas das nossas vidas. Senão, vejamos. Sou (somos) millennials e a vontade de viajar e de conhecer o mundo é intrínseca a esta faixa etária. Mesmo que não pensemos muito nisto, as possibilidades e oportunidades que temos hoje de viajar estão inteiramente ligadas a medidas políticas. Seja pela globalização ou devido à maior abertura das políticas fronteiriças, a verdade é que nunca foi tão fácil sair do país e estudar ou trabalhar lá fora.

Falar em viajar é falar da forma como nos movimentamos. Sendo que as viagens são feitas todos os dias e também a uma escala muito mais pequena. Desde logo, é nos momentos mais triviais da nossa vida que a política também tem lugar. Começando no tempo que esperamos pelo metro ou no trânsito que apanhamos, passando à qualidade de vida nas nossas cidades ou às oportunidades de emprego e de estágios que temos (ou não). Afinal, a política está em todo o lado.

metro ou no trânsito que apanhamos, passando à qualidade de vida nas nossas cidades ou às oportunidades de emprego e de estágios que temos (ou não). Afinal, a política está em todo o lado.

Mas se somos jovens não devíamos querer mudar o mundo ou, pelo menos, torná-lo mais à nossa imagem? Será esta apenas uma ideia romântica completamente ultrapassada? Felizmente, não. Basta olharmos para a resposta massiva dos jovens às campanhas de Bernie Sanders, nos Estados Unidos, ou de Jeremy Corbyn, no Reino Unido. Com este último a ser ovacionado em Glastonbury, um dos mais importantes festivais de música e cultura ingleses. Parece-me que não se trata de uma questão de conteúdo, mas sim de forma. Continuamos preocupados com o que se passa à nossa volta, não o fazemos é da maneira tradicional – o que me parece legítimo.

Para concluir, não quero, de forma alguma, começar o ano com falsos paternalismos ou lições de moral, mas parece-me sensato que estejamos atentos ao que nos rodeia e que nos afecta directamente – é a isto que me proponho. Se vão descobrir aqui a solução para o conflito israelo-árabe? Quase de certeza que não. E respostas à crise na Venezuela? Também será difícil. Posso, isso sim, garantir que darei o meu melhor para que consigamos perceber melhor o que se passa no mundo. Ah, e respondendo ao título: nunca valeu tanto a pena falar de política.

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"Mas se somos jovens não devíamos querer mudar o mundo?"