OPINIÃO
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Saúde
Beatriz Ribeiro
Cirurgia “inédita” para tratamento da enxaqueca chega a Portugal
De acordo com o cirurgião responsável, esta nova "arma terapêutica é promissora e pode ser aplicável num número elevado de doentes com significativa melhoria da qualidade de vida".
Uma equipa do Serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do Centro Hospitalar São João, do Porto, anunciou ter realizado "com sucesso" um tratamento cirúrgico minimamente invasivo (endoscópio) da enxaqueca, que é "inédito em Portugal".
A intervenção em causa é realizada por meio de técnica endoscópica na região frontal e é dirigida aos chamados 'trigger points', isto é, pontos desencadeantes dos episódios de dor.
Segundo António Costa Ferreira, cirurgião responsável pela operação, citado em comunicado do Hospital de São João, esta intervenção "está indicada em doentes que não respondem aos vários tratamentos com medicamentos ou nas situações em que os efeitos adversos desses medicamentos são tão significativos que impedem a sua utilização".
A técnica consiste em "seccionar os músculos situados na região frontal do crânio (corrugador e procerus) e libertar os nervos adjacentes, nomeadamente o nervo supraorbitário e supratroclear (situados na parte superior do olho), com técnica endoscópica. A estimulação desses nervos era o fator desencadeante das cefaleias. A cirurgia é realizada através de três pequenas incisões (15 milímetros) localizadas no couro cabeludo, com anestesia geral e obriga a internamento de apenas um dia ", explica o cirurgião.
De acordo com o especialista, esta nova "arma terapêutica é promissora e pode ser aplicável num número elevado de doentes com significativa melhoria da qualidade de vida. Está descrito, na escassa literatura já disponível, que mais de 80% dos doentes operados ficaram curados ou descrevem uma melhoria em termos de redução da frequência de crises ou da intensidade dos sintomas".
intensidade dos sintomas".
A utente submetida a esta técnica, afirmou que "há 25 anos que não estava dois meses sem tomar analgésicos e sem cefaleias", sublinhando que esta intervenção "mudou" a sua vida.
A equipa que realizou esta operação foi composta por António Costa Ferreira (cirurgião principal), Inês Insua Pereira (cirurgiã principal), Antónia Trigo Cabral (anestesista), Jorge Carvalho (cirurgião ajudante), Sérgio Teixeira (cirurgião ajudante), Paula Martins (enfermeira instrumentista), Joana Monteiro (enfermeira de anestesia) e Patrícia Vieira (enfermeira circulante).
Perspetiva clínica
As cefaleias (dores de cabeça) têm uma variedade de causas que se podem agrupar em duas classes básicas: extracranianas e intracranianas. As cefaleias extracranianas podem ter como causa a inflamação dos seios perianais, irritação dentária. As cefaleias intracranianas podem resultar da inflamação do encéfalo ou meninges, problemas vasculares, agressões mecânicas ou tumores. As cefaleias de tensão consistem na tensão dos músculos extracranianos, são cefaleias de stress e produzem uma dor surda, preservante, na fonte, têmporas, pescoço, ou por toda a cabeça. As cefaleias de tensão associam-se a stresse, fadiga e postura. As cefaleias migranosas, nas quais se incluem as enxaquecas (migraine significa metade docrânio) atingem apenas um dos lados da cabeça e parecem envolver a dilatação e concentração anormal dos vasos sanguíneos. Começam muitas vezes com distorção da visão, manchas brilhantes e manchas negras e consistem numa dor intensa, aguda e pulsátil. Cerca de 80% dos doentes têm uma história familiar desta doença, sendo as mulheres quatro vezes mais afetadas que os homens. Os doentes são normalmente mulheres abaixo dos 35 anos, diminuindo com a idade a frequência dos episódios. De acordo com os dados disponibilizados, a enxaqueca atinge cerca de 12% da população mundial e é considerada a 19ª doença mais debilitante a nível mundial.
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