Pontivírgula - Edição Setembro 2017 Pontivírgula - Edição Setembro 2017 | Page 17

ATUALIDADE

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Reportagem em Auschwitz: "Aqueles que não recordam o passado, deixam-no acontecer outra vez"

No próximo bloco, é-nos explicado onde milhões de prisioneiros dormiam e é impossível esquecer o tamanho do quarto. Até hoje, não consigo entender como é que tantas pessoas dividam um quarto tão pequeno. Também podemos observar a casa de banho, minúscula, utilizada por todos, sem privacidade alguma e apenas durante o horário decidido pelo comando nazi.

Durante a visita, também nos é mostrado o local onde o médico Josef Mengele realizava experiências em humanos. "Em nome da ciência", às mãos deste doutor e do seu grupo de trabalho, muitos prisioneiros ficaram gravemente doentes e alguns morreram, inclusive crianças.

O frio é constante. A Polónia é um país frio, mas enquanto lá estive nunca senti tanto frio como em Auschwitz. No dia da minha visita, estavam 8 graus e eu estava a tremer, portanto nem consigo imaginar como seria trabalhar com 20 e 30 graus negativos. (temperaturas que a Polónia facilmente atinge em Dezembro, Janeiro.)

Ao lado, é-nos mostrado o pátio onde era feita a famosa "chamada", onde os judeus que tinham desobedecido às ordens eram punidos. Hoje em dia, é um memorial em homenagem a todos os que ali morreram.

"O frio é constante. A Polónia é um país frio, mas enquanto lá estive nunca senti tanto frio como em Auschwitz"

O tom de voz da guia em nenhum momento se alterou. Sempre falou em tom baixo e com uma tristeza profunda na voz. Quase no fim da visita de Auschwitz I, visitamos as famosas câmaras de gás. Não foram construídas inicialmente para tal fim, mas o exército alemão necessitava de uma forma mais rápida de eliminar os judeus. Daí a construção de Auschwitz-Birkenau.

Auschwitz-Birkenau, o caminho para a morte

O mais conhecido é Auschwitz-Birkenau, que apenas foi construído devido ao primeiro campo estar cheio. Auschwitz I, foi construído com o objetivo de explorar pessoas consideradas impuras pelo regime, como os judeus, ciganos, comunistas e homossexuais. Mas Auschwitz-Birkenau, já foi construído com a "morte em massa", em mente. Neste campo, cerca de 1 milhão de pessoas foram mortas.

Em Auschwitz-Birkenau, os blocos tinham ainda piores condições que em Auschwitz I. Construídos em madeira, o chão era de terra batida, não tinham janelas e cada bloco tinha cerca de 40 beliches, que 500 pessoas eram obrigadas a partilhar.

"Em Auschwitz-Birkenau, os blocos tinham ainda piores condições que em Auschwitz I

Os sobreviventes afirmam que, por vezes, a sua refeição se baseava num pedaço de pão ou numa sopa de vegetais, normalmente estragada. Muitos prisioneiros, não foram mortos nas câmaras de gás. Mas sim, pelas precárias condições que o exército nazi impunha.

Um dos barracões mostra centenas de sanitas improvisadas, que os prisioneiros, velhos ou novos, sadios ou doentes, eram obrigados a partilhar, sem privacidade alguma e apenas no horário estabelecido pelo exército, como em Auswitz I. Devido à falta de higiene, os prisioneiros passaram a estar muito mais expostos a várias doenças.

É estimado, que grande parte dos prisioneiros, sobrevivesse 2 dois meses em Auswitz-Birkenau, antes de serem levado para a câmara de gás. Um dos motivos, é que passados 60 dias do trabalho que era exigido no campo, os prisioneiros já se encontravam fracos e doentes. O outro, é que assistir a 60 dias das práticas por parte do exército nazi no campo, tornava o prisioneiro numa ameaça e este deveria ser eliminado.

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