ATUALIDADE
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Reportagem em Auschwitz: "Aqueles que não recordam o passado, deixam-no acontecer outra vez"
O exército alemão ordenava que um grupo se reunisse e informava que estava na hora de tomarem banho (algo que faziam todos, numa grande sala, sem privacidade alguma). O procedimento era muito parecido, daí que só quando sentiam que o ar lhes faltava é que os prisioneiros compreendiam o que se estava a passar e tentavam escapar daquela que era uma morte certa. Após cerca de 20 minutos de convulsões, sangramento e perda dos sentidos, não havia sobreviventes e o gás era sugado por exaustores, permitindo assim retirar-se os corpos, que seriam queimados, para que o exército alemão não fosse acusado de crimes.
Hoje, não encontramos vestígios sem ser ruínas das câmaras de gás. Antes de fugirem, os nazis destruíram tudo, na tentativa de esconder os assassinatos em massa.
"Hoje, não encontramos vestígios sem ser ruínas das câmaras de gás"
A visita a Auschwitz é algo muito triste, mas necessário. Parece um passado longínquo, mas tudo aconteceu há menos de 100 anos. Como será possível isto tudo ter acontecido? Como é que deixámos pessoas serem julgadas por as suas raízes, pela sua herança familiar? Hoje em dia, todos achamos que o assunto Holocausto está bem enterrado, porém a xenofobia e o racismo ainda se encontram muito presentes no quotidiano. E é tão mais fácil culpar os outros. Dizer que as coisas más que nos acontecem devem-se à existência dos outros.
A América, no último ano, elegeu uma política de extrema-direita, onde promessas como o fecho de fronteiras e o fim de acordos internacionais estão incutidas. Os britânicos decidiram não continuar na União Europeia. Muito recentemente, ainda este mês, o partido de extrema-direita, a AfD (Alternativa para a Alemanha), tornou-se a terceira força política do país, com 13,2% dos votos, algo que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial. Cada vez mais, as pessoas optam por colocar no poder alguém que apesar de não ser antissemita, é contra a imigração e os refugiados. Porquê? Porque se sentem ameaçadas. Sentiram que a presença de alguém de outra cultura e com outra ideologia, poderia ameaçar a sua existência. E apesar de não infligir sofrimento direto a essas mesmas pessoas, sabiam que apoiar um partido com esta ideologia iria afetar milhões de pessoas. E mesmo assim, a sua opinião manteve-se. A situação síria? Sabemos que a DAESH comete horrores, porém quantos de nós é que ajudam? Podemos fazer disso conversa de café, mas quantos de nós é que agem realmente? O mundo, ainda hoje, se encontra cheio de problemas. E a razão número um, é o ódio ao outro. É a falta de vontade de compreender o outro. É o olharmos para a religião como motivo de discussão e não de união.
Ainda bem que temos Auschwitz. Que nos recorde sempre daquilo de que a Humanidade é capaz.
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