Pontivírgula - Edição Março 2018 Pontivírgula - Edição de Março 2018 | Page 6

ENTREVISTA

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Quais foram as principais dificuldades durante o curso?

As minhas principais dificuldades tinham a ver com o facto de eu não ser uma pessoa académica e o curso na Universidade Católica, na altura, era bastante teórico e era bastante cultural. Então era muito pouco estimulante para mim… História, Políticas Europeias Comparadas… Lembro-me que a cadeira que mais gostei de ter na faculdade foi Literatura do Texto Audiovisual, que era uma cadeira opcional e que eu escolhi porque me disseram que era para ver filmes e para falar sobre os filmes. Acho que a professora se chamava Craveiro e era uma professora mítica da escola. Portanto, vias os filmes, depois ela explicava-te o que os planos significavam e estimulava-te a arranjar explicação sobre o porquê de ter sido filmado daquela forma. Essa foi a minha disciplina preferida. Mas a minha maior dificuldade foi o curso ser pouco prático e eu não ter apetência para estudar. Lembro-me de uma vez uma professora me ter chamado à parte e me ter aconselhado a sair da faculdade e a ir tirar um curso prático, porque a vida académica não era para mim, aquele curso não era para mim. E tinha razão…

Depois veio a RFM em 2005, foi logo direto?

Não, primeiro fiz um estágio na Informação da Rádio Renascença, pertence ao mesmo grupo. Jornalismo. Conheci pessoas incríveis, que ainda hoje são minhas amigas. Mas o jornalismo é uma coisa que é para ser levado demasiado a sério, com demasiado rigor e eu era um puto, tinha 22 anos e não me interessava muito esse caminho, sempre quis fazer coisas mais parvas, brincalhonas, coisas um pouco mais “fora da caixa”. Não quero estar a ser injusto com o jornalismo porque tem sabido reinventar-se. Mas pronto, fiz o estágio em jornalismo, não gostei, mas tive a sorte de os meus colegas terem gostado da minha maneira de ser e me terem dito: “tu não gostas disto, não serves para isto, mas davas um bom produtor de rádio. Porque é que não pedes para estagiar?”. E eu fui estagiar para a produção do “Café da Manhã” e fiquei.

Como é que foi a transformação de um dia estares num ambiente de faculdade para depois estares num ambiente de trabalho, mais profissional?

Foi um choque, na medida em que eu não me lembro de ter estado na Católica. Ou seja, eu fiz o meu ano de Erasmus no meu 5º ano, que na minha altura não era possível fazer o ano de Erasmus no último ano da faculdade. Mas eu tinha deixado um ano para trás, fui de Erasmus e fiz o quarto e quinto ano tudo no mesmo ano. Ou seja, arranjei equivalências às cadeiras. Esse ano foi uma realidade tão fora da caixa: estive um ano em Roma a viver alucinantemente e quando cheguei fui diretamente para o mercado de trabalho. Foi um choque porque foi como se a Católica não tivesse existido. De repente tinha um horário de trabalho, mas repara, o meu horário era das 18h à 1h da manhã, a Rádio Renascença era no Chiado e eu vivia no Bairro Alto. Portanto, repara: eu saía da rádio à 1 da manhã, ia sair, acordava às 17h, levantava-me e ia para o estágio. Posso dizer que tive sorte…

«Tens que ter uma competência 360º para ser um produtor de rádio. Há cada vez mais essa necessidade. Eu mesmo tive que me reinventar»