andou e pode proporcionar-lhes experiências diferentes. Em relação ao que vou fazer agora…a minha ideia inicial era ir para a Austrália, mas não se proporcionou, e apareceu a oportunidade de ir para a Guiné e eu vou um mês, dois meses, logo se vê. Vou fazer voluntariado com crianças deficientes, muitas delas são surdas e outras têm outro tipo de deficiências. Portanto, vai ser um desafio enorme, eles não falam, e se falarem não é português, é crioulo, e eles não ouvem…
Quando viajas sentes também essa necessidade de ajudar pessoas?
Tento sempre contribuir com o que posso, com o que consigo, mas não monetariamente e não com material, comigo. Por exemplo, agora no Nepal estive a dar aulas de português em troca de estadia, alimentação e voos, ou seja, é uma forma de viver gratuitamente enquanto estou num país novo, com outras culturas e aprendo uma nova língua. Aqui também entra a parte da Comunicação Social porque fiz um vídeo de promoção para a escola, por isso a comunicação nunca fica de lado, até porque vou sempre atualizando as minhas redes sociais, o instagram e o blog. Em relação ao voluntariado, comecei aos 16 anos por isso isto de ajudar o próximo, ou o que quer que isso seja, sempre esteve muito incutido em mim. Comecei numa associação de animais abandonados, aos 18 entrei na Casa Lisboa, onde cozinhava e distribuía comida pelos sem abrigo e depois fui para Moçambique, fiz uma vez voluntariado com crianças autistas mas foi durante muito pouco tempo. Também formei muitos voluntários, de forma voluntária porque não recebia nada. Tento ao máximo ajudar enquanto estou cá. O voluntariado para mim é muito egoísta, porque nós achamos que vamos mudar o mundo e que vamos mudar tudo e mais alguma coisa quando estamos no sítio, mas a maior mudança está em nós mesmos e a partir do momento em que te mudas a ti própria, também começas a deixar esse bichinho nas pessoas que estão à tua volta, e se conseguires movimentar duas, três pessoas a fazerem voluntariado, se calhar aí a mudança é muito maior. É como aquele cliché do “nós não somos senão uma gota num oceano, mas sem essa gota o oceano não era tão grande”. Se é frustrante? Se calhar às vezes poderia ser, porque quando estás numa comunidade ficas durante um mês, e então os outros onze meses quem é que está lá? Estás lá? Não… e por exemplo, a minha empresa vai renovar os computadores e vou mandar os antigos para o continente africano, para Moçambique, isso é tudo muito giro mas…há eletricidade? Primeira questão. Sabem ligar os computadores? Sabem mexer neles? Para que é que eles querem os computadores? Eu cheguei à comunidade e eles tinham 12 computadores e eles não sabiam mexer neles e o que eu fiz foi formá-los, ensinei-os… nós não podemos enviar qualquer coisa, qualquer roupa, sem saber o que é que eles vão fazer a isso. Quando eu vou eu sou uma ferramenta, é raro levar coisas comigo. Agora, quando for, vou fazer uma recolha de jogos educativos, manuais de linguagem gestual, coisas que eu vou levar, usar e ensinar a usar. Quando vamos temos, essencialmente, de formar, porque senão as coisas ficam em desuso e assim não vale a pena.
ENTREVISTA
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© Marta Geadas Durán