Pontivírgula - Edição Maio 2018 Pontivírgula - Edição Maio 2018 | Page 10

ENTREVISTA

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Qual foi a viagem que mais te marcou?

Isso é muito difícil de responder, porque cada sítio marca à sua maneira, mas tenho 3 sítios que me marcaram muito, que foram Moçambique, a primeira vez que saí da Europa, que estive numa comunidade, foi o primeiro choque cultural; Nepal, onde estive um mês a caminhar nos Himalaias, fui até 5500 metros, foi uma sensação de liberdade enorme; a Índia, que é um país que eu acho que é um continente, cada região é quase como um país e as pessoas vivem de uma forma muito diferente, e aprendi muito a viajar sozinha aí porque é um sítio que viajando sozinha enquanto mulher é perigoso. Estive lá três meses, até porque ficar num sítio e conhecer a cultura, conhecer as pessoas…não é em 15 dias que se consegue, em 15 dias temos um cheirinho das coisas. São locais onde quero muito voltar, principalmente ao continente africano, que tem muitas energias e, de certa forma, pertenço lá. Sinto isto muito pelas experiências que tive lá, as pessoas que conheci.

Em relação aos atuais alunos de Comunicação Social, tens algum conselho a dar?

Para seguirem os seus sonhos, que não se vejam obrigados pela sociedade e pelas pessoas em redor a seguirem em linha reta. Não é obrigatório seguirem já para mestrado, ou irem estagiar ou trabalhar. Se realmente não se sentirem preparados, fazer um ano de pausa não é um ano perdido, é um ano ganho. Hoje em dia, as pessoas falam muito do currículo e que têm de fazer coisas para o currículo. E quando me dizem que fazer voluntariado é bom por causa disso eu sinto-me indignada, chateada até, e não lhes respondo. O currículo, para mim, é um pedaço de papel que, quando vais a uma empresa tens de apresentar, mas não te descreve, o que te descreve são as experiências que já tiveste. E o que é que descreve uma pessoa que aquilo que fez na vida foi só estudar, trabalhar? O meu currículo não me interessa muito, e as experiências todas que já vivi não dava para descrevê-las todas aí. As coisas que eu ganhei, as capacidades que eu tenho, eu não ganhava em um ano de trabalho.

E o que é que ganhaste?

Uma estaleca incrível. O desenrascar. Um descomplicómetro, tenho um botão desses sempre ligado e o que acontece muitas vezes quando fico aqui é que as pessoas são muito complicadas, e isso chateia-me, porque é uma coisa super simples, a meu ver, e para essas pessoas não é assim. E isto começa a chocar…

Por isso é que te vais sempre embora?

Sim [risos], vou apanhar ar e volto. Mas comecei a aceitar as coisas, elas são como são e, se não há remédio, remediado está. E aprendi a descomplicar, a adaptar-me a cada situação, a cada ambiente, e sinto-me mesmo capaz de fazer qualquer coisa, porque se sou capaz de viajar e percorrer o mundo sozinha, também sou capaz de qualquer coisa, e isso é uma grande mais valia que eu tenho. Considero-me uma boa pessoa para trabalhar em grupo, para liderar. Às vezes quando estou a viajar com alguém, eu acabo por tomar o papel de líder, porque estou tão habituada a viajar sozinha que as pessoas querem fazer algumas coisas por mim e eu já não consigo aceitar.