Pontivírgula - Edição Maio 2018 Pontivírgula - Edição Maio 2018 | Page 11

Quando viajas não sentes falta de alguma rotina?

Nós criamos outro tipo de rotina. Há uma rotina de viagem e que, às vezes, cansa. Isto parece um bocado mau de se estar a dizer, mas depois de já visitar tantos templos, chegas a outra cidade e há mais templos…quase que tens de te obrigar a ir lá conhecer, porque no meio de oito meses de viagem, é cansativo. Mas durante a viagem também podes ter um outro tipo de rotina, aprender novas línguas, a tocar um instrumento, ensinar e ajudar os locais, trabalhar em hostéis… não é bem trabalho porque não recebo dinheiro, é mais uma troca de serviços, ou seja, não gasto mas também não ganho. Trabalhar é aqui em Lisboa, estou nos Tuck Tuck para amealhar e depois vou. Por exemplo, no Nepal comprei umas malas nepalesas e vendi aqui em Lisboa a amigos e tem sido assim. Agora com o instagram a crescer, gostava de ter algumas marcas a fazer patrocínios ou a oferecer material para levar, mas só marcas com as quais me identifique, de desporto, de viagens, o que seja.

Os teus pais já se habituaram a ter-te e a não te ter?

Sim, já se habituaram e já aceitaram. A minha mãe já percebeu que é o meu modo de vida e aquilo que eu gosto. Às vezes pergunta-me quando é que vou assentar e eu pergunto-lhe de volta “o que é assentar?”. Eu já estou aqui há quatro meses, dois deles estive numa roadtrip por isso estava mais ao menos em viagem, mas nestes dois meses já ando a bater com a cabeça nas paredes porque há coisas que aqui não me fazem sentido, principalmente a questão do dinheiro. Eu estou a trabalhar porque tem de ser, porque preciso de dinheiro para poder viajar, mas mesmo lá não gasto muito, na Europa fiz 3 euros por dia, em Marrocos deve ter sido a mesma coisa, em oito meses na Índia só gastei 1500 euros

O que falta conhecer?

Falta conhecer tudo, falta conhecer o resto do mundo, quero fazer África por terra, quero cruzar o oceano Atlântico à boleia de um veleiro, quero fazer a América do Sul…mas queria deixar assente que viajar não é conhecer os sítios, é conhecer as pessoas, porque são as pessoas que fazem esses sítios e é a conhecê-las que me conheço a mim.

ENTREVISTA

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© Marta Geadas Durán