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erick porral

injustiças por conta do controle das camadas dominantes, mesmo sob o comando de Vieira. A sua ilusão é uma miragem com vontade, em frenesi, de uma busca de verdade para si, em que a mentira, por força de um querer quase divino, torna-se realidade. A realidade da arte. Sou arte política, resisto em minha significação obtusa, cega – procuro questionar, mesmo que não defenda nenhum lado, a propriedade da existência, do viver. Tenho fim? Decerto tenho, algumas horas não. Depende onde, quando, como. Sou estranha, sou, por vezes, esquizofrênica. Conheço e desconheço – eu vivo à terceira margem do rio, eu me posiciono hibridamente, não consigo me limitar ao binarismo, me encaixo em uma pluralidade, quase a nível atômico, tudo existe dentro de mim, até mesmo a inexistência. Meu silêncio grita e o meu grito silencia signos linguísticos, e despeja, violentamente, o sensório para os outros, para o mundo, para o além-mundo, para o além-humano – me desfaço em translinguagem e surjo como semiótico.

Freud, em O estranho, afirma que a capacidade do estranho na linguagem é altamente produtiva para a sua potência, ou seja, sua imanência de uma força de vontade, de pulsão de rompimento com a norma, com o estabelecido, com o dito – devido à sua conformação de não facilitar o entendimento, provocando assim uma visão, que pode ser entendida como uma espécie de fragmentação. Importante salientar que trata-se de uma fragmentação de cunho rizomático, ramificando-se em subpotencialidades que autogera uma potencialidade maior, como uma auto-expansão dentro de si. Penso que esta seja a tradução intersemiótica do filme do Rocha, o estranho movimento de se falar duas vezes, uma em imagens e outra em signos linguísticos, que dizem que não quando querem sim e sim quando não – em seus contextos mínimos, se propagando em múltiplas reescritas dentro de si. Talvez, apenas talvez, o fim e o início autogeradores de realidades sejam frutos estranhos, não pertencentes, que estão, que foram, que vão – mas que nunca termina