e nem começa, porque caso ocorresse um ou outro, ou o filme seria poesia ou a poesia seria filme, mas ele é ambos – o filme-poesia.
Por fim, retomando uma passagem do filme, na qual é utilizado um trecho de um poema recortado, do poeta Mario Faustino:” Não conseguiu firmar o nobre pacto entre o cosmo sangrento e a alma pura [...] gladiador defunto, mas intacto (tanta violência, mas tanta ternura).” Volta-se à questão do “efeito violento” descrito acima formulado por Danon-Boileau, conjugado com o excerto de Romeu e Julieta, de Shakespeare, porém sob uma ótica distinta: há aqui a possibilidade de um dialogismo entre esse impacto sensorial que é brutal e terno, que é duplo. Posso ser esquerda, direita – diria a arte, pouco importa, o que eu anseio é falar, falar de tudo, nada. Não apenas movo alguém ao êxtase, movo também a calmaria – como percebe-se nas quebras tensionais, onde a agitação social, é tomada por uma imageria do mais humano sentimento: o amor. Por que falar de arte, de política, de Glauber Rocha, é falar de amor por excelência – e o que é o amor, senão o estranho, o duplo, o quase ódio, o quase não-si, o conhecido-desconhecido, a vida-morte, o fim-início, o objeto não-identificado que tem algo a dizer sempre, porque: “não consigo ficar calado quando meu coração quer falar.” A arte também não.
Vasos comunicantes: poesia e filme, política e arte
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