Apo é o apelido de Abdullah Öcalan, o grande ideólogo e fundador do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), encarcerado em uma prisão de segurança máxima na Turquia desde 1999. De inspiração marxista-leninista, o movimento criado por Apo não só busca a autonomia dos curdos na Turquia e nos países vizinhos como também prega de forma bastante contundente a igualdade de gêneros, bandeira pouco usual entre os líderes sunitas do Oriente Médio.
A partir de seus livros, discursos e métodos, o PKK se tornou rapidamente um movimento em que as mulheres ocupam papéis tão relevantes quanto os homens. Há batalhões inteiros compostos exclusivamente por mulheres no braço armado do PKK. Lá, como na vila de Jinwar, elas são celibatárias. Apo chegou a criar um movimento específico para discutir a igualdade de gênero, a “jinealojia”.
Neste momento, oito mulheres estão vivendo em tempo integral na vila. Cabe a elas organizar as atividades, cuidar das plantações e supervisionar as obras. Quando a reportagem visitou Jinwar, no início de abril, a maior parte dos trabalhos de construção estava sendo feita por homens.
“Muitos deles apoiam nossa ideia e nos ajudam, estão aqui também como voluntários”, me contava uma jovem alemã de 27 anos que vive em Jinwar desde que a vila começou a ser construída. Ela adotou o nome curdo de Nujin Derya – e se recusa a revelar seu nome verdadeiro – e atua como interlocutora entre as curdas e mulheres de outros países que vêm conhecer a experiência. “Estamos abertas a qualquer mulher que queira vir até aqui viver em uma vila autossustentável. Esperamos não precisar de nenhum dinheiro que não seja produzido por nós mesmas.”
A expectativa é que Jinwar esteja repleta de moradoras e crianças após o verão. Até lá a escola estará pronta e as casas equipadas para receber as novas moradoras.