5
A Construção de uma Curitiba Branca
A historiografia tradicional do estado do Paraná se concentrou em enaltecer o ciclo de migrações europeias, enquanto negava a participação relevante de afrodescendentes e populações indígenas. Wilson Martins publicou em 1955 um estudo que refutava a as teses de Gilberto Freyre, afirmado que a mistura de culturas ocorrida no Paraná não foi como a do resto do país, pela mestiçagem de indígenas e africanos, mas pela mistura de diferentes nacionalidades europeias, devido ao fato de não ter havido um processo escravocrata intenso na região.
Essas teorias foram exaltadas pelo governo e difundidas em materiais didáticos, a fim de tentar construir uma identidade europeizada no estado, construção visível até os dias de hoje em monumentos em torno da cidade. Por exemplo, a Praça Dezenove de Dezembro, inaugurada em 1953 e modificada várias vezes ao longo do tempo, representa em seus painéis a “formação” do “povo paranaense”, ilustrando a colaboração entre jesuítas, tropeiros, indígenas e caboclos, apresentada como um Paraná atrasado, e em seguida o estado dos imigrantes, o Paraná desenvolvido. A Estátua do Homem Nu, que se encontra na mesma praça, é outro exemplo da maneira pela qual a população adotou esses símbolos – a obra foi rechaçada por parecer ter traços de populações negras, supostamente não representando o paranaense.
Esses reflexos são encontrados nos dias mais recentes – aqui, como no resto da pesquisa, tendo base no trabalho recente (2016) da professora Joseli Maria Nunes Mendonça –, quando observamos o roteiro turístico de Curitiba que exclui de seu trajeto pontos de identificação afro-brasileiras. Assim como textos oficiais da prefeitura que, ao mesmo tempo em que destacam o alto número de escravos que a capital abrigava, tentam amenizar os efeitos da escravidão. Mesmo afirmando que em 1818 a população cativa representava mais de 17% da população, os textos oficiais colocam o crescimento de escravos e de população lado a lado, buscando mostrar que o número de escravos cresceu em menor proporção.
Aqui trabalhamos com monumentos que representam a visão de uma Curitiba europeia, mas ao longo da revista serão mostrados alguns dos monumentos que representam a cultura dos africanos e seus descendentes em Curitiba.
Praça Dezenove de Dezembro
https://curitibaspace.com.br/praca-19-de-dezembro/ acesso em 19/11/2018