Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Página 54

Thiago Bloss - Nesse ponto, por isso falei provavelmente, para não fazer relações causais diretas, apesar de já fazer algumas, admiro muito o trabalho de Emile Durkheim, que ninguém lê, mas todo mundo deveria ler porque mais atual impossível. Durkheim falava que o suicídio tem as suas variações, mas sempre mantém uma certa cota específica de mortes em cada país, em cada localidade. Ele desconstrói os argumentos baseados na psicopatologia, na hereditariedade que tentam explicar o suicídio. Ele mostra como cada sociedade tem a sua cota específica de indivíduos que morrem por suicídio. Eu seguro um pouco pensar na relação direta porque me pergunto se não entraria uma outra determinação. Mas a princípio eu não tenho qualquer otimismo. Aliás, relatórios da OMS em 2015, 2014 informavam que se tinha um suicídio a cada 40 segundos no mundo e, na época, projetavam que em 2020 esse número chegaria a um suicídio a cada 20 segundos. Ou seja, vai dobrar e é no próximo ano. Estamos então numa perspectiva de ter um aumento brutal de casos de suicídio e estamos passando por uma política de completa destruição de qualquer forma de seguridade social, e mais do que isso, de qualquer forma fraterna de convivência com o outro. Assumimos de vez o autoritarismo brasileiro como uma forma de política de Estado. Assumimos o racismo, a homofobia, como forma política, com forma de política pública.

Ronaldo Coelho - Nesse trabalho do Durkheim, ele fala que em contextos de instabilidade econômica, de instabilidade social e política, do ponto de vista do Estado, os índices de suicídio tendem a aumentar?

Thiago Bloss – Sim, ele fala do suicídio anômico. Ou seja, aquilo que ligava o indivíduo socialmente, o laço social, se desfaz. Os alunos costumam me perguntar se hoje, talvez, o principal tipo de suicídio seja o anômico. Eu acredito que sim. Vejo uma sociedade que está formando cada vez mais individualistas, mini empreendedores individuais, como esse modelo neoliberal de subjetividade, que pensa o indivíduo como uma pequena empresa e todo mundo se tornar uma pequena empresa concorrente.

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PATHOS / V. 12, n.02, 2020 53