Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Page 55

Ronaldo Coelho - Ou coaching?

Thiago Bloss – Sim, ou coaching. Ou um modelo de cuidado de saúde mental, a princípio, com um viés empresarial, tratando o indivíduo como pequeno empresário de si.

Ronaldo Coelho - O cuidado do sofrimento passa a ser um contingenciamento de questões econômicas.

Thiago Bloss - E na lógica do fluxo de caixas de ativos e passivos, contando o prejuízo, quanto devo investir aqui? Assim por diante. Insisto, a gente perde totalmente a dimensão do indivíduo nessa hora, desse indivíduo que sofre. É preciso, também, pensar o suicídio como um grande efeito da nossa atual forma de política de Estado, que é aquela de eliminação dos descartáveis, a chamada necropolítica. Muito própria, hoje, do modelo liberal, no qual há indivíduos que são descartáveis, que são mortos ou deixados para morrer. E aí que o suicídio entra. Isso é mais um efeito do que conversamos sobre a anomia. A princípio, em termos teóricos, o Estado garantiria minimamente as regras do jogo, garantiria os laços sociais, minimamente fraternos (como se isso fosse possível). Mas agora ele se assume, de vez, como o Estado de extermínio. Como um Estado vai eliminar aqueles descartáveis ou vai deixar esses descartáveis morrer.

Ronaldo Coelho - E nesse setembro amarelo, onde vemos campanhas e falas de prevenção ao suicídio, e falas essas, por vezes, das mesmas pessoas que apoiam esse Estado da necropolítica, a fala sua, Tiago, é fundamental, porque prevenir o suicídio é também fazer uma política humanitária e não uma necropolítica. Você quer falar um pouquinho sobre isso?

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PATHOS / V. 12, n.02, 2020 54