Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Page 53

Existem dados que apontam recordes de extermínio da população negra, feito pelo Estado já no primeiro trimestre. Provavelmente neste ano de 2019, chegaremos a 70 mil mortos pelo Estado. É um número que não pode ser simplesmente isolado na hora de pensar sobre suicídio, especialmente dessa população oprimida. Acabamos de ter a aprovação da reforma da previdência e temos dados que mostram o impacto desse tipo de reforma, por exemplo, na população chilena, que está levando milhares de idosos a cometer suicídio. Isso possivelmente vai ser uma condição estrutural que em breve, provavelmente, vai aumentar esse tipo de sofrimento resultante dessa total vulnerabilidade da total perda de direitos.

Ronaldo Coelho - Perda de perspectiva de dignidade. Quando você diz provavelmente é um eufemismo de um cuidado que talvez a gente nem precise. Vai aumentar sim. Achei muito interessante e fundamental discutir o suicídio pela ótica que você traz. A perda de perspectiva de dignidade na velhice é algo muito sério. Ou seja, a pessoa trabalhou a vida inteira, não pode mais trabalhar, não tem mais condições, principalmente as que vivem do trabalho braçal, e não têm dignidade de viver com uma renda mínima.

Thiago Bloss – Exatamente! A importância dessa ideia do sofrimento ético-político, quer dizer, uma das definições já que ele não é um conceito fechado, além de pensar que esse tipo de sofrimento é resultante de relações de poder e que negam o indivíduo em seu ser, em seu existir, traz também que o sofrimento ético-político é resultado da completa negação de cidadania do indivíduo, da negação enquanto sujeito ético, sujeito político. O que vemos hoje, através da política neoliberal, é justamente o desmonte de qualquer forma de cidadania.

Ronaldo Coelho - Então novamente os índices de suicídio vão aumentar?

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