Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Page 52

É muito interessante pensar, como o tipo de sofrimento resultante dessa forma de violência é muito característico de um sofrimento de gênero, que é atravessado sobretudo sobre mulheres. Sempre falo para os meus alunos que eu, enquanto homem, hétero, branco, não carrego esse medo de acordar num ônibus com alguém ejaculando em cima de mim. Quando vou andar na rua de noite não tenho medo de ser estuprado. Entretanto, este é um tipo de sofrimento que é extremamente presente nas mulheres. Quando vou andar com a minha esposa na avenida paulista não carrego angústia ou medo de segurar na mão dela. Não tenho medo de ser agredido. Entretanto, acaba sendo um tipo de sofrimento extremamente comum entre as pessoas do segmento LGBT, por exemplo. Fazer esse tipo de recorte do sofrimento, considerar que ele é individual e universal ao mesmo tempo, é essencial para pensar a questão do suicídio.

Ronaldo Coelho - É a mesma coisa quando a gente fala de raça. Nós, sendo homens brancos não temos, por exemplo, receio de que seremos julgados na nossa inteligência, nas nossas capacidades, pelo nosso tom de pele.

Thiago Bloss – Ou se formos parados pela polícia, sabemos que a possibilidade de nos identificarem imediatamente como bandidos é menor do que se fôssemos negros. O ponto é esse, e é interessante fazer uma relação direta com isso. Ao pegar os índices de suicídios, temos entre os níveis mais altos os segmentos mais oprimidos. O que mostra relação muito direta, muito presente, entre suicídio e violência. Essa violência socialmente difusa. Dados que saíram ano passado no relatório de óbitos da população negra, mostram que no Brasil a cada dez suicídios, seis são de negros. Ano passado, o grupo Gay da Bahia, do Luiz Mott, que faz um trabalho maravilhoso, levantou os dados de suicídio na comunidade LGBT. Os dados apontam aumento de 43% entre 2017 e 2018. Os levantamentos apontados pelo Ministério da Saúde mostram alto índice de suicídio na população indígena, na população idosa. E o índice de violência sobre essa população é gigantesco.

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