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De cada vez que a Maria chora, a minha mãe corre, precipita-se para o berço. Ouve-a, compreende quando tem sono ou quando não quer dormir. Isso perturba-me.
Digo à minha mãe que quando for grande não quero ter filhos. Não percebe logo a minha reacção; que ideias terei eu na cabeça? Estarei com ciúmes da minha irmã? Por ela não ser como eu?
Não. A razão que me leva a decidir aos sete anos que não hei-de ter filhos é mais simples e importante. Dificilmente consigo fazer entender à minha mãe que teria medo de não poder ouvir o meu filho chorar, portanto não poderia correr, como ela, para o consolar, para o ajudar quando precisasse de mim. O problema é insolúvel. Portanto, não terei filhos.
A mãe disse:
-- " Uma mãe sente quando um filho chora. Uma mãe tem uma relação muito especial com o filho. Não precisa forçosamente de ouvi-lo."
Sentir, para mim, não é resposta. Preferia poder ouvir o meu filho. Tenho demasiado medo.
Não conseguindo tirar-me da cabeça aquela recusa, a minha mãe aconselha-me a que fale sobre o assunto com os adultos surdos de Vincennes. " Eles poderão responder-te melhor do que eu ou o teu pai."
A simplicidade da resposta que me dão surpreende-me: basta pôr um pequeno microfone debaixo da almofada do bebé!
O microfone faz funcionar um sinal luminoso quando a criança chora. Entendi. E um dia serei mãe. No futuro também eu poderei ser mãe.
Se conseguisse lembrar-me das mil perguntas deste género que me vinham à cabeça naquela altura, de bom grado faria uma lista. Mas é-me impossível.
A minha relação com o mundo exterior, naquela idade, é muito especial. Muitas vezes fico isolada e aborreço-me rodeada de pessoas que falam à minha volta. É frequente irritar-me por não compreender. Dá-me ideia de que os outros não se esforçam grandemente para comunicar comigo, a não ser os meus pais, e o mundo limita-se a eles dois e à Maria, que ainda não fala mas que emite sons, e chora, e ri, e que absorve todas as atenções.