O voo da Gaivota 1 | Page 40

40
Não sei se fiz a pergunta . Sinto-me sobretudo surpreendida diante daquele bebé . E vagamente inquieta : irá crescer ?"
A minha mãe volta para casa , já não tem barriga , a barriga dela agora está lisa . Creio que não percebi como é que o bebé saiu . Havia ali um bebé , por onde terá passado ? A relação entre o bebé que me mostram e o ventre liso da minha mãe não é nada evidente . Talvez o bebé tenha saído pela boca ? Ou pelas orelhas ? É confuso e muito misterioso .
Toda a família quer saber se a Maria é surda , claro está .
A minha mãe já se tinha tranquilizado durante a gravidez visto a Maria se mexer muito . Por exemplo , a minha mãe batia com a porta e sentia logo o bebé reagir , a dar-lhe pontapés ...
Vi logo que a Maria era diferente de mim . Mas a mãe pediu ao especialista que o confirmasse , não lhe bastava o instinto .
Queria ouvi-lo dizer . A minha irmã ouve . Tenho uma irmã que ouve , " como os outros ".
Apercebo-me de que ela é como os meus pais e que eu estou só contra três .
Julgo que no início pensei : uTalvez ela seja como eu , ficaremos assim mais fortes ." Naquela idade , sinto-me um pouco estranha no seio da família . Não tenho a possibilidade de me sentir cúmplice de alguém parecido comigo . Não consigo identificar-me .
Essa diferença far-me-á sofrer ? Não .
Quando a minha mãe regressa a casa com ela , sinto-me feliz ao ver aquele bebezinho nos seus braços . Põem-na ao meu
colo fazendo-me milhares de recomendações , que lhe segure a cabeça porque ela é muito frágil ; tenho medo de a partir , seguro-lhe com cuidado .
Vejo que aquela " coisinha ," está viva , que tem que se lheprestar atenção , não pode ser sacudida em todas as direções como as bonecas . Tive um certo receio .
Antes de ela nascer os meus pais davam-me muito mimo , toda a sua atenção se concentrava em mim . Actualmente essa atenção é-lhe dirigida a ela ; vejo bem que as coisas mudaram .