O voo da Gaivota 1 | Page 39

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vontade devoradora de comunicar que eu sentia dentro de mim , comecei a fazer progressos espantosos .
O primeiro , o imenso progresso em sete anos de existência , acabava de se dar : chamo-me " EU ".
8 Maria , Maria . . .
Quando a minha irmã nasceu perguntei como se chamava . Maria .
Maria , Maria , tenho dificuldade em fixar o nome . Decidi escrevê-lo num papel várias vezes , como nas cópias da escola .
Vou amiúde ter com a minha mãe para perguntar de novo como se chama a minha irmã , para ter a certeza ... E repito : Ma-ri-a , Ma-ri-a , Ma-ri-a .
Eu sou eu , Emmanuelle ; ela é ela , Maria . Maria , Maria , Maria ... Afinal como é que ela se chama ?",
Escrevi-lhe o nome mais de cem vezes , uma letra atrás da outra para me lembrar bem , para o fixar visualmente . Mas pronunciá-lo é ainda muito difícil para mim . Tenho dificuldade em oralizar o seu nome .
O meu pai leva-me ao hospital ver a minha irmã . Tenho horror ao hospital . Vi a minha mãe tirar sangue quando estava grávida e tive tanto medo que me escondi debaixo da cama . Ainda hoje me custa ver sangue . Hospital igual a injecção , igual a sangue ... Hospital igual a sítio ameaçador .
A minha irmã está numa incubadora . Não é prematura , mas como não há aquecimento no hospital puseram-na ali com os outros bebés simplesmente para que não tenha frio .
Não sei se fiquei contente quando a vi . É uma imagem mistério . Vejo a incubadora e uma coisa pequena lá dentro . É difícil imaginar alguma coisa relacionada com ela , atrás daqueleplástico . Já não sei muito bem , mas os meus sentimentos são pouco nítidos naquele momento . Interrogo-me : " Seremos iguais ?",