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Nas folhas de um quadro desenha uma casa e mostra-nos o gesto que lhe corresponde. Em seguida desenha uma pessoa adulta, dizendo:
" É o teu pai, tu és filha do teu pai; é a tua mãe, tu és filha da tua mãe."
Mostra também alguém à procura de qualquer coisa. Primeiro através de mímica, seguidamente por gestos, pergunta-me:
" Onde está a tua mãe?" Eu respondo por mímica. " A mãe não está." Ele corrige-me.
" A mãe está onde? A mãe está em casa." Faz o gesto de mãe e de casa.
Uma frase completa. " A mãe está em casa." Aos sete anos exprimo finalmente, com as minhas duas mãos, a identificação da minha mãe e do local onde se encontra!
Encarando Alfredo de olhos nos olhos, repito com as minhas duas mãos, radiante: " A mãe está em casa."
Nos primeiros dias aprendo palavras do quotidiano, seguidamente os nomes das pessoas. Ele é Alfredo, eu sou Emmanuelle. Um gesto para ele, outro para mim.
Emmanuelle: " O sol que parte do coração." Emmanuelle para os que ouvem, o sol que parte do coração para os surdos. Pela primeira vez ensinam-me que se pode dar um nome às pessoas. E também isso é formidável. Eu não sabia quem na minha família tinha nome, a não ser o meu pai e a minha mãe.
Encontrava pessoas, amigos dos meus pais, membros da família, mas para mim nenhum tinha nome, qualquer definição. Fiquei tão surpreendida ao saber que ele se chamava Alfredo e o outro Bill... E eu, sobretudo eu, Emmanuelle. Percebi enfim que tinha identidade. EU: Emmanuelle.
Até então eu falava de mim como de uma outra pessoa, uma pessoa que não era " eu ". Diziam sempre: " A Emmanuelle é surda." Era assim: " Ela não te ouve, ela não te ouve." Não havia " eu ". Eu era " ela ".