O voo da Gaivota 1 | Page 33

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Louco de alegria, porque em Vincennes, perto de Paris, se encontra uma solução para mim! Quer levar-me lá. Tem um grande desgosto por não conseguir falar comigo e está disposto a tentar aquela experiência.
A minha mãe diz que não quer ir com ele. Tem medo de ficar perturbada, talvez também de ter uma nova desilusão. Está prestes a dar à luz, vai deixar que seja o meu pai a levar-me a Vincennes. Tem o pressentimento de que a criança que traz no ventre não é surda. Sente a diferença entre aquele bebé aninhado dentro dela e eu. Aquele bebé mexe-se muito, reage aos ruídos do exterior. Quanto a mim, dormia demasiado tranquila, ao abrigo da algazarra. A chegada da segunda criança da família, quase sete anos depois de mim, é de momento a sua maior preocupação. Precisa de estar calma, de pensar um pouco em si própria. Compreendo que a emoção ligada àquela nova esperança seja demasiado violenta para ela; receia uma nova decepção.
E depois nós temos o nosso complicado sistema de comunicação, ela e eu, aquele que apelido de " umbilical,". Já nos habituámos ambas a ele. Quanto ao meu pai, esse não tem nada.
Sabe que sou feita para comunicar com os outros, que o desejo o tempo todo. Aquela possib ilidade que lhe caiu do céu através da rádio entusiasmou-o.
Creio que foi a primeira vez que aceitou verdadeiramente a minha surdez, ao oferecer-me aquele presente inestimável. E oferecendo-o também a si próprio, pois queria desesperadamente comunicar comigo.
Como é evidente, eu não sei de nada, não entendo nada do que se passa. O meu pai está muito perturbado, é essa a minha única recordação daquele dia comovente para ele e formidável para mim: o rádio e a expressão do meu pai.
No dia seguinte leva-me a Vincennes. Recordo algumas imagens desse dia.
Subimos umas escadas na torre da aldeia e entrámos numa grande sala. O meu pai conversa com duas pessoas que ouvem.
Dois adultos sem aparelho e que portanto, para mim, não são surdos. Naquele tempo eu só identificava os surdos através dos