O voo da Gaivota 1 | Page 28

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Também " bato ". " Bato " na minha mãe , viro-lhe a cabeça à força para mim . Quando o médico me vem ver , procura o local onde eu posso ter dores e carrega ali até me magoar e eu gritar . É assim que as coisas se passam , a minha comunicação infantil com o médico , quando estou doente .
Faço muitas coisas às escondidas . Resumindo , são as minhas experiências pessoais .
Adoro xarope . Acabo todos os frascos sem ninguém ver e , claro está , fico doente . Ninguém me disse que o xarope faz mal . Como é que eu posso achar que é mau para a súde se é tão doce , tão bom e tira as dores , visto que é o doutor que o receita ?
Adoro " tatitão ". Também o roubo , escondo-o no meu armário , entre as pilhas de roupa , onde calha . Pedaços de salsichão comidos gulosamente , cujo cheiro intenso alerta a minha mãe . O salsichão substituiu os rebuçados da minha infância .
Terei cinco , seis anos . Agora vou à escola com crianças surdas . A professora sabe que sou surda , não estou isolada . Aprendo a contar com dominós . Aprendo as letras do alfabeto , desenho e pinto . Agora é um prazer ir à escola .
Tenho um colega surdo que vem brincar lá para casa . Colocam-nos s dois .
Temos gestos e mímicas pessoais .
Brincamos com o fogo , com velas . Porque é proibido . Gosto de experimentar o que é proibido .
Vemos Goldorak e imitamo-lo , brincamos com as bonecas e brigamos dando pontapés .
Observo atentamente como vivem os meus pais e tento reproduzir as suas atitudes nas minhas brincadeiras . Faço o papel de mãe , responsável pela casa , os jantarzinhos , a cozinha . Ele tem que tomar conta das crianças , das bonecas . Quando ele volta do trabalho , mimamos :
-- " Tu fazes isto . Eu faço aquilo ." " Não , eu é que faço isso ." Brigamos um pouco , faz parte do jogo .
Compreender a diferença entre uma mulher e um homem é também " tifiti ". Já vi que a minha mãe tem seios e o meu pai não . Vestem-se também de maneira diferente , uma é a mãe , outro é o pai . Mas além