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Também " bato ". " Bato " na minha mãe, viro-lhe a cabeça à força para mim. Quando o médico me vem ver, procura o local onde eu posso ter dores e carrega ali até me magoar e eu gritar. É assim que as coisas se passam, a minha comunicação infantil com o médico, quando estou doente.
Faço muitas coisas às escondidas. Resumindo, são as minhas experiências pessoais.
Adoro xarope. Acabo todos os frascos sem ninguém ver e, claro está, fico doente. Ninguém me disse que o xarope faz mal. Como é que eu posso achar que é mau para a súde se é tão doce, tão bom e tira as dores, visto que é o doutor que o receita?
Adoro " tatitão ". Também o roubo, escondo-o no meu armário, entre as pilhas de roupa, onde calha. Pedaços de salsichão comidos gulosamente, cujo cheiro intenso alerta a minha mãe. O salsichão substituiu os rebuçados da minha infância.
Terei cinco, seis anos. Agora vou à escola com crianças surdas. A professora sabe que sou surda, não estou isolada. Aprendo a contar com dominós. Aprendo as letras do alfabeto, desenho e pinto. Agora é um prazer ir à escola.
Tenho um colega surdo que vem brincar lá para casa. Colocam-nos s dois.
Temos gestos e mímicas pessoais.
Brincamos com o fogo, com velas. Porque é proibido. Gosto de experimentar o que é proibido.
Vemos Goldorak e imitamo-lo, brincamos com as bonecas e brigamos dando pontapés.
Observo atentamente como vivem os meus pais e tento reproduzir as suas atitudes nas minhas brincadeiras. Faço o papel de mãe, responsável pela casa, os jantarzinhos, a cozinha. Ele tem que tomar conta das crianças, das bonecas. Quando ele volta do trabalho, mimamos:
-- " Tu fazes isto. Eu faço aquilo." " Não, eu é que faço isso." Brigamos um pouco, faz parte do jogo.
Compreender a diferença entre uma mulher e um homem é também " tifiti ". Já vi que a minha mãe tem seios e o meu pai não. Vestem-se também de maneira diferente, uma é a mãe, outro é o pai. Mas além