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3 . O silêncio das Bonecas
A aprendizagem da comunicação começou pelo método de Borel-Maisonny , com uma ortofonista , uma mulher extraordinária , que soube ouvir os queixumes da minha mãe , suportar o seu desespero e as suas lágrimas . Brincava comigo às bonecas , com água , aos jantarinhos . Mostrou à minha mãe que era possível estabelecer uma relação comigo , fazer-me rir , para que eu continuasse a viver como " antes ", de ela se ter apercebido da minha surdez .
Aprendi a articular os AA , os BB , os CC , mostravam-me as letras através de movimentos dos lábios e de gestos das mãos .
A minha mãe assistia às sessões . Era um estabelecer de contato mãe / filha . Foi por se identificar com aquela mulher que a minha mãe reaprendeu a falar comigo .
Mas a nossa maneira de comunicar era instintiva , animal , poderia chamar-lhe " umbilical ". Tratava-se de coisas simples , como comer , beber , dormir .
A minha mãe não me impedia de fazer gestos , embora lhe tivessem recomendado . Tínhamos sinais só nossos , completamente inventados . A mãe disse :
- " Fazias-me chorar a rir tentando comunicar comigo por todos os meios ! Eu virava a tua cara de frente para a minha para que tentasses ler palavras simples e tu mimavas ao mesmo tempo , era lindo e irresistível ."
Quantas vezes fez ela esse gesto de virar o meu rosto de frente para o seu , aquele gesto do frente a frente mãe-filha , fascinante e terrível , que nos serviu de linguagem ?
Desde essa altura , não houve mais lugar para o outro , para o meu pai . Quando ele voltava do trabalho , as coisas tornavam-se mais difíceis , eu passava pouco tempo com ele e não tínhamos o código " umbilical ". Eu articulava algumas palavras , mas ele quase nunca as entendia . Custava-lhe ver a minha mãe comunicar comigo numa linguagem de grande intimidade , que lhe escapava a ele . Sentia-se excluído . E ficava realmente excluído por não se tratar de um diálogo que pudéssemos partilhar entre os três , nem com qualquer outra pessoa . E ele queria comunicar diretamente comigo . Aquela exclusão revoltava-o .
Quando voltava para casa ao fim da tarde , não conseguíamos partilhar nada . Era frequente eu ir puxar pelo braço da minha mãe para ela interpretar o que ele dizia . E eu teria gostado tanto de " falar "