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" - Bem vê que é absurdo !"
Não lhe perdoei . Nem a mim própria por ter acreditado nele . Depois dessa consulta eu e o teu pai demos início a um período de angústia e permanente observação . Assobiávamos , chamávamos-te , batíamos com as portas , víamos-te bater palmas , agitares-te como se dançasses ao som da música ... Tão depressa acreditávamos como já não acreditávamos . Sentíamo-nos perdidos .
Aos nove meses levei-te a um especialista que me disse de imediato que tinhas nascido com uma surdez profunda . Foi um rude golpe . Eu não queria admiti-lo nem o teu pai . Repetíamos :
" Foi um erro de diagnóstico . É impossível ..." Fomos a outro especialista e eu ia cheia de esperanças que ele sorrisse e nos mandasse embora , sossegando-nos . " Fomos ter com o teu pai ao Hospital Trousseau , tu estavas sentada ao meu colo e aí compreendi . Durante os testes faziam sons fortíssimos que nos dilaceravam os tímpanos , e tu ficavas impávida .
" Fiz perguntas ao especialista . Três perguntas : " - Virá a falar ? " - Sim . Mas será um processo demorado . " - O que hei de fazer ?”
" - Vai usar um aparelho , fazer reeducação ortofônica precoce e sobretudo nada de língua gestual . “
" - Posso avistar-me com adultos surdos ? “
" - Não seria aconselhável , pertencem a uma geração que não conhece a reeducação precoce . Ficaria desmoralizada e desiludida .
O teu pai estava completamente desesperado e eu chorava . De onde teria vindo aquela " maldição "? Hereditariedade genética ? Alguma doença durante a gravidez ? Sentia-me culpada , assim como o teu pai . Procurámos em vão quem é que na família poderia ser surdo , quer de um lado quer do outro .
Compreendo o choque que tiveram . Os pais culpabilizam sempre , procuram sempre alguém a quem culpar . Mas atirar as culpas da surdez de um filho a um ou a outro , ao pai ou à mãe , é terrível para a criança . Ninguém deve fazê-lo . No que me diz respeito , não se sabe nada . Possivelmente não se saberá nunca . E talvez seja melhor assim .
A minha mãe diz que já não sabia o que fazer comigo . Olhava para